Cientistas estão a usar Inteligência Artificial para comunicar com abelhas, golfinhos e elefantes. Karen Bakker teme as consequências.
A capacidade de comunicar com animais é certamente algo que poucos de nós rejeitariam. Hoje em dia, a ciência já esteve mais longe do tornar esse sonho uma realidade.
Karen Bakker, professora da University of British Columbia, revelou recentemente que a tecnologia de Inteligência Artificial está a ser usada para comunicar com abelhas, golfinhos e elefantes.
“As tecnologias digitais, tão frequentemente associadas à nossa alienação da natureza, estão a oferecer-nos uma oportunidade de ouvir os não-humanos de maneiras poderosas, revivendo a nossa conexão com o mundo natural”, escreve Karen Bakker no seu novo livro, “The Sounds of Life: How Digital Technology Is Bringing Us Closer to the Worlds of Animals and Plants”.
“Agora, isto levanta uma questão ética muito séria, porque a capacidade de falar com outras espécies parece intrigante e fascinante, mas pode ser usada para criar um senso de parentesco mais profundo ou um senso de domínio e capacidade de manipulação para domesticar espécies selvagens que nós nunca, como humanos, fomos capazes de controlar anteriormente”, disse Bakker numa entrevista à Vox.
Bakker falou sobre o caso de uma equipa de investigadores alemães que codificou sinais de abelha num robô, que depois enviaram para uma colmeia.
“Esse robô é capaz de usar a comunicação de dança das abelhas para dizer às abelhas para parar de se moverem, e é capaz de dizer a essas abelhas para voarem para uma fonte específica de néctar”, explicou Bakker à Vox.
Bakker reitera as suas preocupações de que estes avanços científicos levem ao uso abusivo de animais.
Todavia, “a esperança é que, com essa ética em vigor, no futuro, nós – você e eu, pessoas comuns – tenhamos muito mais capacidade de sintonizar os sons da natureza e entender o que estamos a ouvir”, argumentou a investigadora.
O processo usado pela Inteligência Artificial para falar com os animais é muito diferente daquele que os humanos testaram até agora.
Bakker explicou que o processo começa com a gravação de sons que animais e plantas fazem para detetar padrões e “associá-los a comportamentos e tentar determinar se há informações complexas a serem transmitidas pelos sons”.
“O que estão a fazer não é tentar ensinar a linguagem humana a essas espécies, mas compilar, essencialmente, dicionários de sinais e depois tentar entender o que esses sinais significam nessas espécies”, explicou à Vox.