Há aves marítimas que preferem enfrentar os ventos fortes de uma tempestade, em vez de correrem o risco de serem levadas para terra.
Quando um furacão se aproxima, a maior parte das aves mantém a sua distância. As espécies terrestres tendem a abrigar-se no local, enquanto as aves marinhas podem voar centenas de quilómetros para evitar a tempestade.
No entanto, um novo estudo publicado na Proceedings of the National Academy of Sciences a 4 de outubro relata uma nova tática para a sobrevivência das aves marinhas em caso de uma tempestade forte— algumas voam diretamente para dentro do furacão.
Através de localizadores GPS, os investigadores monitorizaram o movimento de 401 cagarras-do-pacífico na ilha japonesa de Awashima durante 11 anos.
Dessas aves, 75 voaram durante furacões ou tempestades tropicais. O novo estudo é “o maior conjunto de dados de rastreio de animais em tempestades” até à data, segundo descreve a co-autora Emily Shepard, especialista em movimento animal da Universidade de Swansea no País de Gales.
As aves perseguiram o olho da tempestade durante oito horas. “Foi um daqueles momentos em que não podíamos acreditar no que estávamos a ver“, realça Shepard, em entrevista à Science News. “Tínhamos algumas previsões sobre como se poderiam comportar, mas esta não era um deles”.
Se um furacão surgisse enquanto as cagarras-do-pacífico estivessem longe no mar, eles circum-navegariam a tempestade, de acordo com a equipa de investigação.
Mas a maioria das aves que examinaram fugiam para perto de terra. Se estes animais fossem apanhados entre a tempestade e terra, evitavam o solo — e dirigiam-se para a tempestade. As cagarras-do-pacífico tinham também maior probabilidade de voar em direção ao olho do furacão durante tempestades mais fortes, segundo o estudo.
Durante um furacão, “chega uma altura em que a sua velocidade de voo não consegue igualar a velocidade do vento, […e] as aves começam a andar à deriva com o vento”, nota Emmanouil Lempidakis, autor do estudo e ecologista na Universidade de Swansea. Mas o estudo sugere que as aves ainda preferem esta deriva em vez de serem empurradas para terra.
As cagarras-do-pacífico adaptam-se a ambientes ventosos. Prosperam sobre a água, onde ventos fortes lhes permitem voar longas distâncias sem se cansarem, conservando bem a energia. Mas chegam a terra e tudo muda.
A partir do solo, as aves marítimas têm dificuldade em descolar, deixando-as em risco de ser apanhadas por aves de rapina ou corvos. Embora venham a terra procriar, as cagarras-do-pacífico passam a maior parte do seu tempo a sobrevoar o oceano.
O comportamento curioso das aves ao voar em direção aos furacões serve “para evitar ventos fortes em terra que ocorrem na sequência de tempestades”, escrevem os autores no estudo. A “opção mais segura” para elas é mesmo voar para longe da terra, em direção ao olho da tempestade.
“Pode parecer contra-intuitivo”, admite Andrew Farnsworth, ornitólogo da Universidade de Cornell. “Mas da perspetiva do comportamento das aves, faz muito sentido”, acrescenta o especialista.
É necessária mais investigação para determinar como outras aves marinhas respondem a tempestades fortes, mas é provável que esta estratégia seja utilizada apenas em aves de voo rápido, que se adaptam melhor ao vento.