Um estudioso acredita que o enigmático fresco do Túmulo do Mergulhador não representa aquilo que se pensava anteriormente.
O Túmulo do Tuffator, também conhecido como Túmulo do Mergulhador, foi descoberto em 1969 na necrópole de Tempa del Prete, dois quilómetros a sul de Paestum, uma grande cidade de antiga Grécia, fundada há cerca de 2.600 anos. As suas ruínas ficam naquilo que é agora a cidade de Salerno, no sul de Itália.
O Túmulo do Mergulhador é semelhante aos túmulos gregos de Paestum, contendo um sarcófago em calcário com um fresco embutido na rocha. Este túmulo em específico foi construído com cinco grandes lajes de pedra, cada uma delas com um fresco.
Os frescos retratam um simpósio, um banquete e casais masculinos. No entanto, o fresco no teto tornou-se uma das obras artísticas mais estudadas da antiguidade – e talvez a mais perturbadora, escreve o El País.
O fresco retrata um menino nu a mergulhar de uma torre para um corpo de água. Os peritos não sabem ao certo o que representa. Também não se sabe quem é que está enterrado neste túmulo. Alguns historiadores sugerem que possa ter pertencido a algum mercador aposentado de origem etrusca, embora este revele uma forte influência grega na sua decoração, detalha a revista Fénix.
As dúvidas da sua origem mantém-se, no entanto. Uns dizem que é da civilização grega, enquanto outros argumentam que é de origem etrusca.
A figura do mergulhador tem sido associada às tradições religiosas e vista como uma representação metafórica da vida como intervalo entre o nascimento e a morte: o nascimento é o salto, a morte a água, explica o El País. A representação do suicídio também é uma possibilidade.
Este mergulho ritual poderá representar a alma do defunto que penetra nas águas do Okeanos, a matriz aquática universal.
Tonio Hölscher, professor emérito de Arqueologia Clássica na Universidade de Heidelberg, na Alemanha, é especialista em monumentos dos impérios grego e romano. No final do ano passado, Hölscher publicou o livro “The Swimmer of Paestum” (O Mergulhador de Paestum).
Na sua obra, Hölscher sugere uma teoria que pode desvendar o mistério por trás do fresco do Túmulo do Mergulhador. Ao contrário das ideias existentes, o especialista dissocia o fresco de qualquer simbolismo. Em vez disso, propõe que a imagem simplesmente descreva uma cena real: um jovem a saltar para a água.
“Os jovens eram a esperança da sociedade. No universo da Grécia Antiga, a beleza [era] não apenas um traço físico, mas também espiritual e ético; o corpo saudável e forte é belo e um instrumento de excelência humana”, explica Hölscher ao El País.
O autor sugere que o nadador de Paestum seja uma representação realista, “o que não implica uma trivialidade”. Pelo contrário, “é bastante significativo”.
“A opinião comum – até agora – era que o jovem simplesmente não saltou para o mar, mas fez uma transição da vida para a morte. O mar era a eternidade, etc., etc. Houve um consenso geral em torno dessa interpretação. Dizer que esta imagem era simplesmente um salto levou tempo a ganhar terreno, mas lentamente convenceu mais estudiosos”, acrescentou.
“O mergulho é, portanto, parte de um rito de passagem [de jovem para adulto]… mas não é uma metáfora, é uma imagem real de uma atividade social”, rematou.