O investigador e historiador Manuel Correia, autor de dois livros sobre Egas Moniz, defendeu este sábado que o primeiro Nobel português, cujo nascimento, há 140 anos, é recordado no sábado em Estarreja, foi alvo de uma “grande injustiça”.
Em causa está o facto de a Assembleia do Nobel do Instituto Karolinska, que atribui os prémios de Fisiologia ou Medicina, ter recusado a atribuição do Nobel a Egas Moniz pela invenção da angiografia cerebral, uma técnica que permitia a visualização das artérias do cérebro e que, segundo o historiador, foi a sua “grande realização científica”.
“Parece estranho como, sendo a angiografia tão consensual, não lhe foi dado o prémio por isso. Não lhe reconheceram o mérito científico por essa invenção”, disse à Lusa o historiador, que investigou o processo de atribuição do prémio Nobel a Egas Moniz, nos arquivos da fundação Nobel em Estocolmo, Suécia.
Os resultados desta investigação estão publicados no livro “Egas Moniz no seu labirinto”, da autoria de Manuel Correia, que sintetiza as diferentes e menos consideradas facetas do neurologista nascido em Avanca, Estarreja.
No livro, publicado em 2013, o historiador salienta o facto de Egas Moniz não ter recebido o Nobel pela invenção da angiografia cerebral, apesar de ter estado várias vezes nomeado em 1928, 1933, 1937 e 1944.
“Houve uma certa injustiça no critério que levou a que Egas Moniz tenha sido nomeado tantas vezes e tenha sido sempre recusado, com uma argumentação curiosa de comparação com outras técnicas então existentes, que vieram a provar ser de menor alcance e de menor valia que a angiografia cerebral”, concluiu o investigador.
Egas Moniz foi galardoado com o prémio Nobel de Fisiologia ou Medicina em 1949, pelo desenvolvimento da leucotomia pré-frontal, vulgo “lobotomia”, uma operação ao cérebro que após forte controvérsia deixou de ser praticada na década de 1960.
/Lusa