A artista Carrie Paterson sempre quis enviar mensagens para o espaço, na esperança de que alguma espécie alienígena entrasse em contacto com a Terra. Mas ao contrário da maioria das experiências até agora – de envio de mensagens com som e imagem – ela acha que é preciso mandar uma mensagem diferente: com cheiro.
Para a artista, os cheiros da Humanidade – aromas florais, fedor de fezes ou o odor da gasolina – definem muito do que é a vida na Terra. O olfato seria uma forma primitiva de contacto entre espécies no planeta, e poderia servir bem para um primeiro contacto com extraterrestres.
A ideia da artista é uma entre várias, numa discussão antiga. Desde que a Humanidade inventou o rádio e a televisão, mensagens têm sido enviadas ao espaço na esperança de alguém as receba.
Este mês, um encontro na Califórnia do instituto SETI (Search for Extraterrestrial Intelligence), que procura alienígenas, discutiu a proposta de Paterson e outros especialistas no assunto. A conferência Communicating Across the Cosmos reuniu astrónomos, artistas, linguistas e antropólogos para debater se a Humanidade estará a mandar a mensagem errada.
Passando o recado
Uma das propostas mais antigas de comunicação com alienígenas foi feita no século XIX pelo matemático Carl Gauss, que queria cortar árvores numa floresta densa. Sua ideia era formar um triângulo que pudesse ser visto “da Lua ou até de Marte”. O astrónomo Joseph von Littrow propôs uma mensagem semelhante, só que com querosene a queimar na água à noite.
No século XX, há 40 anos, o telescópio de Arecibo, em Porto Rico, enviou uma mensagem de 1.679 bits que formava uma imagem semelhante à de um jogo da Atari. A esperança era que a mensagem viajasse por 21 mil anos até o fim da Via Láctea.
Pouco antes disso, a NASA tinha enviado as sondas Pioneer 10 e 11, contendo uma caixa metálica com desenhos de um homem e de uma mulher.
Mas para muitos, os recados enviados até hoje são incompreensíveis.
“Desenhos lineares de homens e mulheres são legíveis apenas pelos humanos contemporâneos”, diz o designer Marek Kultys.
No entanto, há outra mensagem enviada ainda mais difícil de ser decifrada. Há 35 anos, a Voyager levou consigo um disco de ouro com mensagens em 55 línguas.
Mas que alienígena teria um gira-discos, ainda mais com a rotação correta? Aliás, quantas pessoas na Terra têm um gira-discos hoje em dia?
Os autores de ficção científica vão ainda mais longe. Stanislav Lem, autor de Solaris, criou alienígenas que não tinham corpos ou mentes como as nossas. A sua criatura extraterrestre era um “oceano inteligente”.
Tempo longo
Para Kultys, todos esses fatores têm que ser pensados quando se elabora uma mensagem para alienígenas. Um problema que pode surgir é o descompasso entre a emissão e o recebimento da mensagem. Como muitas delas demoram muitos anos – às vezes milhares deles – para viajar pelo cosmos, talvez a resposta também só chegue num período semelhante.
Assim sendo, se as primeiras mensagens foram enviadas apenas no século XX, dificilmente a atual geração ouvirá uma resposta.
“A nossa esperança de nos comunicarmos com outra civilização inteligente tem uma faceta melancólica”, afirma o designer.
Para o antropólogo John Traphagan, da Universidade do Texas, outro risco é que a comunicação tenha demasiado ruído e isso acabe por causar mais atritos do que aproximação. No caso, já que a comunicação se daria entre civilizações que nunca tiveram contacto físico, a possibilidade de ocorrerem enganos e confusões é enorme.
Nesse caso, qual seria a melhor forma de comunicação? Seriam imagens, sons ou cheiros, ou algo que ainda nem foi inventado? A conferência da SETI não conseguiu chegar a um consenso.
Douglas Vakoch, que tem o curioso cargo de diretor de composição de mensagem interstelar na SETI, acredita que a Humanidade precisa transmitir uma mensage honesta sobre o que somos, e não uma imagem idealizada e maquilhada.
“Não devíamos esconder nossos defeitos. A mensagem precisa ser direta: somos uma civilização jovem, ainda na adolescência tecnológica. Enfrentamos vários problemas na Terra e ainda não sabemos que resposta teremos. Mas apesar de tudo ainda temos esperança e confiança em nós mesmos.”
Nesse sentido, o disco a bordo da Voyager vai no sentido contrário: esconde as nossas guerras, a fome no mundo, as nossas doenças, poluição e explosões nucleares.
O antropólogo Traphagan afirma que se algum alienígena algum dia ouvir essa mensagem e vier para a Terra com base nela vai sentir-se enganado.
ZAP / BBC
Eu cá acho que eles já viram o «buraco» que isto é… conta tanta confusão …. ainda pensam… «xispa…. irá para lá e levar uma tarei???!!!! Tá quieto Zezinho!!!»