O preço máximo da energia (eletricidade e gás) no Reino Unido vai ser atualizado esta sexta-feira, 26 de agosto, pelo regulador de energia, para quase o dobro, numa altura em que a crise de preços já causa instabilidade social e política, com greves em vários setores.
O novo valor do Ofgem (Office of Gas and Electricity Markets) para o ‘teto’ de preços [price cap], que entrará em vigor em 1 de outubro, vai ultrapassar as 3.500 libras (4.144 euros), segundo especialistas do mercado energético.
O Ofgem havia aumentado o valor 54% em abril, situando a despesa média anual em 1.971 libras (2.335 euros ao câmbio atual).
O preço máximo que as empresas de energia estão autorizadas a cobrar aos seus clientes é determinado de acordo com as variações dos preços nos mercados internacionais e outros custos.
A energia já é um dos principais fatores para a taxa recorde de inflação no Reino Unido, de 10,1%, que economistas do banco de investimento Citi e da Resolution Foundation estimaram poder chegar aos 18% em 2023.
É também uma das principais ameaças para o crescimento económico do país, que o Banco de Inglaterra antecipou que vai entrar numa “longa recessão”.
“A fonte destes riscos e o motor destas revisões das nossas previsões desde maio são, na sua esmagadora maioria, os preços da energia e as consequências das ações da Rússia”, disse o governador, Andrew Bailey, no início deste mês.
O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, admitiu na quarta-feira, durante uma visita a Kiev, que os britânicos estão “a pagar nas contas de energia pelos horrores de Vladimir Putin”, mas vincou que “o povo da Ucrânia está a pagar com o seu sangue”.
Os partidos Trabalhista e Liberais Democratas exortaram o Governo a congelar já os preços para impedir um agravamento da crise do aumento de custo de vida, que também está a pesar nos custos com alimentação e transportes.
Em maio, o governo anunciou um apoio de 400 libras (474 euros) por agregado familiar, o que reduzirá o impacto do aumento, além de apoios adicionais a famílias com rendimentos baixos, inválidos e reformados.
Porém, novas medidas terão de esperar pelo sucessor de Johnson, que só entrará em funções a 6 de setembro, e os dois candidatos divergem sobre como fazê-lo.
O antigo ministro das Finanças Rishi Sunak defende mais apoios direcionados aos mais vulneráveis, enquanto a ministra dos Negócios Estrangeiros, Liz Truss, promete um corte imediatos nos impostos.
Esta conjuntura está a contribuir para a instabilidade social, com greves sucessivas nos transportes, serviços judiciais, recolha do lixo e portos marítimos.
Os estivadores do porto de Felixstowe, por onde passa quase metade do tráfego de contentores do Reino Unido, estão em greve até segunda-feira, exigindo um aumento salarial superior aos 7% oferecidos pela empresa.
Na Escócia, o sindicato Unite considera insuficiente a proposta de aumento de 7% dos trabalhadores da recolha de lixo, cuja greve em curso deixou as ruas de Edimburgo e outros municípios cheias de caixotes de lixo a transbordar.
Entretanto, advogados que trabalham para o Ministério do Justiça para defender clientes sem recursos recusaram a oferta de aumento de 15% e anunciaram uma greve por tempo indeterminado, a começar a 5 de setembro, que poderá atrasar milhares de processos judiciais.
// Lusa