Verdadeiros sentimentos podem ser revelados através do padrão linguístico

O que alguém diz em voz alta sobre um grupo de pessoas e o que realmente sente por elas nem sempre coincide.

Os verdadeiros sentimentos de uma pessoa sobre outros grupos de pessoas podem ser revelados pelos padrões linguísticos usados na descrição dos seus sentimentos.

Esta é uma das principais conclusões de um novo estudo de David Markowitz, professor na Escola de Jornalismo e Comunicação da Universidade de Oregon, publicado a 2 de agosto no Journal of Language and Social Psychology.

“Há alturas em que as pessoas podem mentir sobre o que sentem em relação aos outros por preocupações de gestão de impressões”, explicou Markowitz.

A investigação de Markowitz incluiu o estudo do engano e da linguagem, bem como o estudo da desumanização e da linguagem, segundo a Phys Org.

“Sabemos pela literatura enganosa que existem padrões de linguagem que revelam se uma pessoa é honesta ou enganosa”, realçou o docente.

“E sabemos pela literatura da desumanização que existem padrões na linguagem que revelam quem vê os grupos ‘de fora’ como sendo menos do que humanos, em comparação com mais humanos”, acrescenta.

Um exemplo citado no estudo é o discurso do ex-Presidente Donald Trump sobre o Estado da União em 2019, quando disse que apoiava a imigração para os Estados Unidos e queria que os imigrantes “chegassem no maior número de sempre”.

Trump contrariava declarações anteriores em fóruns menos públicos, nos quais se referia aos imigrantes como “animais” que “infestam” países — linguagem normalmente associada à desumanização.

Markowitz recrutou 1.169 voluntários para o estudo. Foi-lhes depois pedido que classificassem, numa escala de 0 a 100, o quão evoluídos consideravam oito grupos distintos: árabes, muçulmanos, imigrantes, americanos, democratas, republicanos, afro-americanos e asiáticos.

Ao classificarem um determinado grupo como um dos mais ou menos evoluídos, foi-lhes pedido que escrevessem os seus pensamentos, sentimentos e opiniões sobre o grupo. Mas os participantes também foram instruídos a serem honestos nas suas opiniões sobre os grupos, ou a mentirem sobre as suas opiniões sobre o grupo.

Estudos anteriores, incluindo uma meta-análise de 2015, sugerem que os padrões linguísticos podem distinguir entre mentiras e verdades.

“Os efeitos são relativamente pequenos, mas suficientemente fortes para serem fiáveis”, sublinhou David Markowitz.

As palavras escritas pelos participantes foram estudadas através de um programa automático de análise de texto, que contém dicionários de categorias relacionadas com dimensões sociais, psicológicas e parte das dimensões da fala.

O programa demonstrou ser uma ferramenta chave na avaliação de mentiras, bem como da desumanização, a partir dos padrões de linguagem, notou Markowitz.

“É uma forma de padrão dourado para avaliar os padrões de linguagem a partir de uma perspetiva de ciência social”, referiu o docente, explicando que o programa transformava texto em dados.

Consistente com trabalhos anteriores, o estudo descobriu que os textos enganadores usavam menos auto-referências e mais termos emocionais negativos do que os textos verdadeiros, e os desumanizadores usavam mais emoções negativas do que os humanizadores.

O estudo destaca-se de outros por investigar a forma como estas construções psicológicas interagem, e como se refletem na linguagem que as pessoas usam ao tentarem gerir impressões e manter uma auto-imagem positiva.

“O que esta investigação sugere é que a linguagem realmente importa e revela aspetos psicológicos dos comunicadores que têm uma crença interna diferente da sua representação externa”, concluiu Markowitz.

ZAP //

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