A seca e a subida dos custos das matérias-primas está a preocupar seriamente os produtores vinícolas portugueses, que evitam ao máximo o aumento dos preços.
O setor vinícola atravessa uma situação “dramática” que está a roubar o sono a muitos produtores. Quebras na apanha da uva na ordem dos 50%; vindimas que começam mais cedo ou são adiadas por causa da seca; e aumento do custo das matérias-primas na ordem dos 30% são alguns dos problemas que assolam a indústria.
De acordo com o ECO, muitos produtores tiveram de encontrar outras alternativas para conseguir ter uvas suficientes para produzir vinho e cumprir os prazos de entrega das mercadorias.
A empresa de produção de vinhos nas regiões do Douro e de Trás-os-Montes Costa Boal Family Estates calcula “quebras na produção de uva entre os 40% e 50%” devido à seca.
Em França, por exemplo, com dois dias de chuva nos últimos três meses, as uvas ficaram mais pequenas e menos saborosas. Os viticultores em França temem um aumento do teor de álcool dos vinhos. Por cá pode acontecer o mesmo.
As condições aceleraram “a maturação das uvas antes do tempo e a acidez continua a baixar. Já se registam 12 graus de álcool”, conta António Boal, da Costa Boal Family Estates, ao ECO.
O problema alarga-se a outras zonas do país. “Já começámos as vindimas há uma semana. Como não temos água suficiente para rega em Reguengos de Monsaraz, as vinhas estão a sofrer muito e logo a vindima vai ser péssima, porque vai haver uma quebra de produção de uva entre os 50 e os 60%”, diz o diretor executivo da Ervideira, Duarte Leal da Costa.
Na zona do Douro, em 16 anos de trabalho, o diretor-geral da Quinta do Portal, Manuel Castro Ribeiro, diz que “nunca assistiu a nada assim” nas vinhas e tudo por culpa da seca. “Este é um ano muito difícil. Há decisões de enologia muito complicadas a tomar”, atira.
O CEO da Adega Cooperativa de Monção, Armando Fontainhas, salienta que “a maior dificuldade que os produtores sentem” é a falta mão-de-obra para a apanha das uvas e o custo elevado da mesma que “ultrapassa os 50 euros por oito horas de trabalho”.
Matérias-primas como papel para rótulos, e cartão e madeira para caixas, não chegam para as encomendas e disparam de preço dia após dia. “Uma garrafa que custava 38 cêntimos disparou para 1,30 euros”, lamenta António Boal.
“Comprámos mais stock de garrafas do que precisávamos, porque estávamos a prever esta escassez de garrafas. O que teve grande impacto na nossa tesouraria”, disse ao ECO o enólogo Pedro Ribeiro, da Herdade do Rocim.
Os produtores garantem que a solução não passa pelo aumento do preços dos vinhos e tentam inventar formas de evitá-lo.