A China está a fazer exercícios militares que não fazia desde a Terceira Crise do Estreito de Taiwan, nos anos 90. Pelosi diz que não quis mudar o “status quo” na região e fala numa reação “ridícula” de Pequim à sua visita à ilha.
As manobras militares da China com fogo real nas imediações de Taiwan, na sequência da visita à ilha da líder da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, Nancy Pelosi, entraram esta sexta-feira no segundo dia.
De acordo com a agência de notícias Efe, as atenções estão viradas para dois porta-aviões da marinha chinesa, o Liaoning e o Shandong, que, apesar de ainda não terem sido avistados a participar nos exercícios, já não se encontram nos portos de origem.
Os exercícios de quinta-feira, que levaram ao encerramento do espaço aéreo e marítimo em seis áreas à volta da ilha, incluíram a prática de tiro ao alvo com artilharia de longo alcance, com “múltiplos tipos de mísseis convencionais”, bem como a mobilização aérea de dezenas de aviões militares, incluindo caças e bombardeiros.
Trata-se da primeira vez que são levados a cabo lançamentos do género nas proximidades de Taiwan, desde a Terceira Crise do Estreito de Taiwan, entre 1995 e 1997, uma das três graves crises militares nesta área geográfica, após os nacionalistas do Kuomintang se terem retirado para a ilha em 1949, depois de perderem a guerra civil contra os comunistas de Mao Zedong.
Analistas citados pelo jornal de Hong Kong South China Morning Post sugeriram que o Exército de Libertação Popular (PLA, na sigla inglesa; exército chinês) poderá fazer hoje uso de bombardeiros com mísseis de cruzeiro de longo alcance, como os CJ-20.
Pelosi considera reação da China “ridícula”
A líder da Câmara dos Representantes do Congresso dos EUA classificou hoje como “ridículo” que a sua visita a Taiwan possa prejudicar a ilha e assegurou que o objetivo é manter o ‘status quo’ internacional.
“A nossa delegação não procura alterar o ‘status quo’ na Ásia ou Taiwan”, disse Nancy Pelosi, durante uma conferência de imprensa na embaixada dos EUA na capital japonesa, Tóquio, a última paragem numa digressão asiática que também a levou esta semana a Singapura, Malásia e Coreia do Sul, democracias que procurou “celebrar” com a viagem.
“Isso é ridículo”, disse Pelosi quando questionada sobre críticas de que a sua visita a Taiwan teria feito mais mal do que bem para o território, ao desencadear maciços exercícios militares chineses em redor da ilha e retaliação económica.
A veterana política norte-americana disse que a China utilizou simplesmente a visita “como desculpa” para uma demonstração de força, e afirmou que a intenção da viagem era sempre “mostrar respeito para com os países” visitados, “ter paz no Estreito de Taiwan” e “fazer prevalecer o atual ‘status quo'”.
Pelosi disse que, apesar do compromisso da Administração dos EUA em manter a ordem internacional tal como está, “os chineses estão a tentar isolar Taiwan” e vetar a participação da ilha em organismos globais e capacidade de receber e conduzir visitas oficiais: “Mas não isolarão Taiwan impedindo-nos de viajar para lá”, concluiu.
“Não permitiremos que isolem Taiwan. Não programam a nossa agenda de viagens, o Governo chinês não fará isso. A nossa amizade com Taiwan é forte”, disse Pelosi, que apelou à continuidade das visitas e relações com a ilha.
A visita da democrata a Taiwan ensombrou grande parte da agenda da digressão asiática, algo com o qual Pelosi não está satisfeita.
“Não quero que a visita a Taiwan desvie a atenção do nosso verdadeiro objetivo”, disse Pelosi, que é o de fazer avançar ainda mais as relações de Washington com os seus aliados na região, explicou.
O Presidente norte-americano, Joe Biden, “tem dado uma enorme atenção ao Indo-Pacífico, que é muito importante em muitas áreas, tais como segurança, economia e governabilidade”, acrescentou.
Pelosi liderou uma delegação composta por outros representantes do Congresso dos EUA, incluindo membros de comissões que vão desde os negócios estrangeiros e forças armadas à política económica.
EUA adiam teste de míssil
O chefe da diplomacia norte-americana, Antony Blinken, criticou hoje as manobras militares da China em torno de Taiwan, considerando-as “provocações” que representam “uma escalada significativa” nas tensões.
Blinken considerou que não havia “pretexto” para iniciar exercícios no Estreito de Taiwan por parte de Pequim, que se opôs à visita à ilha, esta semana, da presidente da Câmara dos Representantes do Congresso norte-americano, Nancy Pelosi.
John Kirby, porta-voz da Casa Branca, revela ainda que os Estados Unidos adiaram um teste de um míssil balístico intercontinental (ICBM) previsto para os próximos dias “para evitar uma nova escalada das tensões”.
“No momento em que a China faz exercícios militares desestabilizadores em torno de Taiwan, os EUA comportam-se, ao contrário, como uma potência nuclear responsável, reduzindo o risco de mal-entendidos”, salientou.
ZAP // Lusa