Violações e exploração empurram migrantes do Golfo para o cristianismo evangélico

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O cristianismo evangélico está a aumentar entre os migrantes do Golfo, em consequência da ajuda prestada pelas igrejas a esses trabalhadores – normalmente explorados e mal remunerados -, revelaram pastores e paroquianos da região.

Cerca de 30 milhões de migrantes vivem no Conselho de Cooperação do Golfo – que inclui o Bahrain, Kuwait, Omã, Qatar, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos. Em alguns desses estados os migrantes representam a maioria da população, com 80% a trabalhar na construção, nos serviços e em funções domésticos.

Segundo o Guardian, que entrevistou pastores e paroquianos nos seis países, os migrantes – incluindo os das comunidades hindu e católica – estão a se converter ao Pentecostalismo, religião que conta com mais de 600 milhões de praticantes.

Muitos dos migrantes frequentam as igrejas pentecostais porque estas se concentram nas necessidades quotidianas, como a saúde e as questões económicas. De acordo com o Pastor John (pseudónimo), a sua igreja ajuda pessoas que enfrentam exploração, dificuldades financeiras, servidão doméstica e abuso sexual.

“A violação é um problema muito, muito comum em toda a indústria doméstica. E não são apenas as mulheres – há homens que vêm até nós porque também são violados”, indicou o pastor.

No Conselho de Cooperação do Golfo, as igrejas pentecostais atuam como organizações semelhantes a sindicatos, atuando frequentemente como o primeiro ponto de apoio para os migrantes. “Se forem à embaixada, eles [os funcionários] falam com o empregador e envolvem a polícia local”, disse o pastor.

“Esta é uma situação muito intimidante para o cidadão comum. Pela minha experiência, a maioria dos irmãos que enfrentam esses desafios são trabalhadores e são muito, muito vulneráveis a abusos”, explicou o pastor.

Em casos de violação, continuou, a vítima tende a contactar primeiro a igreja, que depois se coordena com a embaixada para uma possível fuga.

Devido ao segredo em torno da conversão na região, não é possível determinar o número exato de cristãos. No Qatar, onde vivem 2,1 milhões de trabalhadores migrantes – cerca de 75% da população -, o Google Maps lista dezenas de igrejas pentecostais. Contudo, muitas preferem se manter discretas.

Numa dessas igrejas, que indica a sua localização somente às pessoas de confiança, uma rede ajuda vítimas de violação. “Se uma mulher solteira aparecer [grávida] no hospital, irão procurar o seu contrato de casamento. Se não o tiver, é denunciada à polícia e colocada na prisão”, ficando sem os filhos, contou um dos membros.

Para alguns, a conversão a esta forma fundamentalista de cristianismo faz com que se reneguem o seu passado e a sua anterior religião. O Pastor Luke, que desde 1991 tem trabalhado num dos estados menos rigorosos do Golfo, está concentrado na conversão de pessoas que, até então, praticavam o hinduísmo.

“Na nossa igreja, há várias pessoas a serem batizadas todos os meses”, indicou, acrescentando que esse número é maior que nunca. De acordo com o pastor, as pessoas que se convertem tendem a organizar as suas vidas – casam, têm filhos e são promovidas no trabalho.

“As pessoas vêm da Índia e do Paquistão para melhorar a sua vida e da sua família”, mas quando chegam as condições não são as esperadas, havendo acesso a muitos vícios, referiu. “Ninguém lhes diz que quando chegam aqui encontram frequentemente mais problemas do que os que deixaram para trás”, acrescentou.

Taísa Pagno //

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