Células em causa podem fazer com que o revestimento do útero se torne menos recetivo à implantação do embrião.
Uma equipa de cientistas descobriram que as pequenas bolhas de membrana celular cheias de líquido encontradas no sémen poderiam ajudar a explicar alguns casos de infertilidade. Este tópico ganha especial relevância quando, no Reino Unido, um quarto dos casos de infertilidade não tem causa óbvia, levando a um diagnóstico de “infertilidade inexplicada”.
“São um grupo desafiante [a tratar]”, resumiu Hadis Gholipour, investigadora da Universidade de Ciências Médicas do Irão, numa conferência da Sociedade Europeia de Reprodução Humana e Embriologia, a 5 de Julho em Milão, Itália.
O sémen contém pequenas bolhas de membrana celular cheias de líquido, chamadas exosomas, que são libertadas a partir de uma série de tipos de células do sistema reprodutor masculino. Estes podem fundir-se com células de esperma para fornecer moléculas que ajudam a melhorar a qualidade do esperma.
De acordo com investigações anteriores, os exossomas encontrados no sémen das pessoas com problemas de fertilidade parecem diferir dos exossomas das que não têm tais problemas. Neste âmbito, Gholipour e a sua equipa deram agora as primeiras pistas de que os exossomas no sémen das pessoas com problemas de infertilidade sem explicação podem fazer com que o revestimento do útero se torne menos recetivo à implantação do embrião.
Os investigadores recolheram exossomas de amostras de sémen colhidas de 10 homens com infertilidade sem explicação médica e de 10 dadores de esperma sem problemas de fertilidade. Extraíram então tecido endometrial — que reveste o útero — de seis mulheres e adicionaram os exossomas às células endometriais, antes de os incubar durante 24 horas.
“Os exossomas incubados ligam-se às células endometriais e podem ser encontrados dentro das células [endometriais]“, disse Gholipour. Uma vez dentro das células, os exossomas podem emitir diversos sinais, disse Gholipour.
Os investigadores analisaram as células endometriais para a actividade dos genes conhecidos por tornarem o útero mais recetivo à implantação do embrião. Descobriram que os exossomas dos homens com infertilidade inexplicável desencadearam um padrão diferente de atividade genética nas células endometriais. Gholipour e os seus colegas especulam que isto pode tornar o revestimento do útero menos recetivo à implantação do embrião.
No entanto, serão necessários estudos maiores para confirmar estes resultados preliminares. As diferenças exatas entre os dois conjuntos de exosomas também precisam de ser estabelecidas. Ainda assim, a compreensão das possíveis causas de infertilidade inexplicável poderia ajudar a identificar novas estratégias de tratamento, disse Gholipour.