As bicicletas têm-se multiplicado pelo mundo – e com elas, as lendas sobre os seus benefícios e as suas desvantagens.
Nos Estados Unidos, por exemplo, o número de pessoas que vai trabalhar de bicicleta cresceu 60% na última década, segundo dados de recenseamento de junho.
Na América Latina, cidades como São Paulo, a Cidade do México e Bogotá começaram a implantar sistemas de bicicletas públicas e ciclovias, numa tendência que se repete por todo o continente.
Em Portugal, a maior parte das principais cidades já implementou uma rede de ciclovias. A cidade de Braga, uma das mais planas do país, criou uma rede com cerca de 76 quilómetros de extensão.
Mas tão depressa quanto as bicicletas, também os mitos e lendas sobre as suas vantagens ou inconvenientes se espalham.
Quais são verdade, quais são exagero?
Andar de bicicleta emagrece?
Andar de bicicleta é uma actividade aeróbica, o tipo de exercício adequado a quem quer emagrecer.
A questão é que a perda de peso depende de quantas calorias são perdidas e quantas são consumidas.
Um estudo divulgado pela British Medical Journal revelou que os homens e mulheres que chegam ao trabalho de maneira activa (de bicicleta, a correr ou a andar pé) têm um índice de massa corporal e uma percentagem de gordura corporal significativamente menor do que os que usam outra forma de transporte.
Uma pessoa que pese 58kg, por exemplo, pode queimar entre 170 e 250 calorias, se estiver a pedalar a um ritmo relaxado.
Esse número pode chegar a mais de 400 calorias, se a velocidade for moderada, ou superior a 700 calorias, se o ritmo for maior.
Ou seja, andar de bicicleta pode ajudar a perder peso, mas depende da velocidade e da dieta feita para complementar o desgaste físico.
Andar de bicicleta prejudica o sexo?
Fertilidade, impotência, dormência… Um dos maiores mitos em relação à bicicleta está nos efeitos na vida sexual dos ciclistas, tanto de mulheres como de homens.
No caso das mulheres, há dois anos foi publicado um estudo que questionava se a posição na bicicleta poderia causar o adormecimento e a perda de sensibilidade na área genital.
O estudo, da Escola de Medicina da Universidade de Yale, nos Estados Unidos, abordou a altura do guiador em relação ao assento.
Se a altura fosse menor, produzia uma pressão maior sobre o períneo e uma sensação menor na bacia pélvica, entre o ânus e a vagina.
Mas os investigadores explicam que essa condição poderia ser alterada com uma mudança na posição do guiador, e que este tinha sido um estudo pequeno, com um grupo reduzido de mulheres.
Em relação aos homens, há diversos estudos que mostram que o ciclismo pode causar distúrbios genitais e disfunção eréctil.
Mas as últimas pesquisas, em que foram analisados mais de 5 mil ciclistas, não encontraram ligação entre o tempo gasto na bicicleta e a infertilidade.
Ajuda a reduzir os níveis de poluição?
É evidente que o aumento do uso da bicicleta como meio de transporte reduz o uso de veículos nas cidades.
No entanto, essa estatística não favorece directamente os ciclistas, que podem inalar de 2 a 5 vezes mais partículas poluentes do que os que viajam de carro.
Estudos do investigador Luc Int Panis, do Instituto Flamengo de Pesquisas Tecnológicas, e do professor Jonathan Grigg, da Escola de Medicina de Londres, apontam que a causa é a respiração rápida e profunda de quem anda de bicicleta.
Isso faz com que o ciclista respire mais partículas ultra-finas que estão no ar, que chegam a ser de centenas de milhares por centímetro cúbico nas horas de maior tráfego.
Andar de bicicleta é mau para os joelhos?
Depende da posição. Especialistas recomendam que as pessoas estudem o tamanho adequado e a sua postura correcta sobre a bicicleta.
A acção repetitiva de pedalar pode causar grande desconforto se o movimento não for fluido, o que se consegue ajustando o banco a uma altura adequada.
É também aconselhável começar sempre a pedalar a um ritmo moderado e aumentar a intensidade gradualmente.
Andar de bicicleta é um exercício de baixo impacto e, por isso, é frequentemente recomendado no tratamento de reabilitação de pessoas que sofreram lesões.
Mas os especialistas em medicina desportiva recomendam misturar o uso da bicicleta com outros tipos de desporto de maior impacto, como a corrida.
O objetivo é desenvolver músculos diferentes e evitar problemas em outras partes do corpo, como as articulações e os ossos.
Com capacete ou sem capacete?
O ciclista britânico Chris Boardman, medalhado nos Jogos Olímpicos, divulgou a sua lista de prioridades para ciclistas – na qual não incluiu o uso de capacete.
“O problema do capacete é que desencoraja as pessoas. O ciclista está tão seguro numa bicicleta como a pé“, diz Boardman.
“Estatisticamente, é mais seguro estar numa bicicleta do que estar numa banheira”, acrescenta o ciclista
“Não há nada de errado com os capacetes, mas se apenas 0,5% das pessoas o usam na Holanda, que é um dos países mais segurosd Mundo, deve ser por alguma razão”, explica Boardman à BBC.
Esta opinião gerou uma série de críticas e Boardman – que faz parte de uma campanha do governo britânico para estimular o uso da bicicleta – defendeu a sua posição, destacando mais os benefícios alcançados pelo exercício do que os riscos de não se usar o capacete.
No entanto, o Instituto de Seguros dos Estados Unidos para Segurança nas Estradas informou que a maioria das 722 mortes registadas entre ciclistas em 2012 foi de pessoas que não usavam capacetes.
Segundo o instituto, os capacetes também reduziram os riscos de lesões no cérebro em 85%.
ZAP / BBC