/

Linguista tenta salvar idioma que é falado por 8 pessoas

Kawésqar é uma língua indígena com origem incerta. É isolada, não tem classificação e está em risco de extinção.

O kawésqar é uma espécie em vias de extinção. Não, não é um animal. É um idioma utilizado por (muito) poucas pessoas no sul do Chile.

Este idioma é indígena, aglutinante e polissintética – tem expressões e frases que podem ser traduzidas com uma só palavra, no castelhano.

As explicações dadas pelo especialista Oscar Aguilera à BBC reforçam a ligação entre este idioma e Espanha.

O kawésqar era utilizado pelos colonos, num dos territórios ocupados por espanhóis, na “época dos descobrimentos”. Em algumas palavras, houve adaptações do castelhano.

Uma das particularidades relacionadas com este idioma é que os seus falantes tinham 32 formas de dizer “aqui”.

Há um factor cultural importante e curioso neste povo: “Se o kawésqar não tem certeza do que vai dizer, não diz. Utiliza sempre o condicional. Culturalmente, eles rejeitam a falta de veracidade, isso é sancionado pelo grupo. A pessoa que mente destaca-se negativamente entre eles”, contou Oscar Aguilera.

A origem do kawésqar é incerta, tal como muitas outras línguas indígenas. É uma língua “isolada”, sem classificação, porque não tem, nem ligação com qualquer família linguística, nem vínculos com qualquer outra língua viva.

É complicado descobrir, comprovar, de onde vêm as palavras, a estrutura e a gramática deste idioma.

A origem da população? Estima-se que tenha surgido nesta zona da Patagónia Ocidental há cerca de 10 mil anos – mas a primeira evidência conhecida só aparece registada no século XVII.

No século XIX terão existido cerca de quatro mil kawésqar, que falavam o seu idioma. Ainda no mesmo século, já à entrada para o século XX, os kawésqar quase desapareceram: 500 pessoas.

Hoje há…oito pessoas a falar kawésqar. Ainda vivem cerca de 250 kawésqar na região de Magallanes, no Chile, mas quase todos só falam castelhano, por necessidade, por causa do seu dia-a-dia. Quatro dos oito falantes são idosos, outros três estão a caminho ou já chegaram aos 60 anos.

Por isso, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) considera que este é um idioma em extinção. E os Governos do Chile pouco ou nada têm feito para manter este idioma.

“O problema é que, em linhas gerais, não é uma língua prática. É melhor aprender espanhol ou estudar inglês”, disse o linguista Aguilera.

Há 50 anos que Oscar Aguilera tem tentado evitar a extinção do kawésqar. Regista o vocabulário, faz gravações, documenta as palavras.

E recentemente passou a contar com uma ajuda ilustre: a parceira do presidente chileno, Irina Karamanos, que quer saber mais sobre o assunto.

Irina considera que os chilenos têm uma má relação com as suas comunidades e com os seus povos indígenas. Por isso, aprender a língua é uma forma de aproximação.

Nuno Teixeira da Silva, ZAP //

Siga o ZAP no Whatsapp

Deixe o seu comentário

Your email address will not be published.