Eve Wilkowitz morreu em 1980. Só uma técnica de investigação inédita, que envolve árvores genealógicas de ADN, permitiu encontrar o criminoso.
22 de Março de 1980. Eve Wilkowitz, 20 anos, fechou mais um dia no seu emprego, como secretária de uma editora. Apanhou o comboio já de noite, em Manhattan, Nova Iorque. Nunca mais foi vista. Viva.
A notícia bateu à porta da sua irmã: tinha sido raptada, violada e estrangulada. Agentes da polícia deram a informação a Irene Wilkowitz. A notícia é a pior de sempre na vida da jovem de 17 anos: a sua irmã estava morta. O corpo apareceu num quintal.
Rhode Island, o Estado mas pequeno dos Estados Unidos da América, naquele dia encolheu ainda mais para Irene, que se sentiu num mundo minúsculo e sentiu-se com medo – desde aquele momento ficou a pensar no momento em que o assassino também a iria perseguir.
A vida (de Irene) continuou. Entrou na faculdade, trabalhou, casou-se e divorciou-se, foi mãe duas vezes. Mas tudo longe da zona onde vivia. Para evitar o criminoso que lhe tinha tirado a irmã.
Passaram 38 anos e nenhuma notícia. Nem por parte do assassino, nem por parte da polícia.
Em 2018, o seu filho falou-lhe sobre um novo método utilizado pela polícia de Califórnia para identificar um conhecido violador e assassino em série. Chegaram ao ADN desse criminoso através da sua árvore genealógica, misturando ADN do local do crime com bancos de dados de ADN de inúmeras pessoas.
A genealogia genética a resolver um crime violento, pela primeira vez. Pelo menos nos EUA.
Esta “janela” permitiu resolver, ou pelo menos tentar resolver, crimes antigos. Procurar a identificação de criminosos, por crimes executados anos, ou mesmo décadas antes.
Irene Wilkowitz pediu ajuda a um especialista. Num primeiro momento, nada conseguiu; em Nova Iorque aquela técnica ainda não era permitida oficialmente.
Mas o Federal Bureau of Investigation (FBI) entrou no processo, graças à intervenção da polícia de Suffolk, com auxílio do Departamento de Saúde de Nova Iorque – que enviou ao FBI o sémen encontrado no corpo de Eve. Isto no final de 2019.
Já no ano passado, um agente do FBI tinha encontrado um familiar (afastado) do suspeito. E já tinha um apelido: Rice.
42 anos depois, um cenário muito semelhante: agentes da polícia bateram à porta de sua casa. “Identificámos a pessoa responsável pela morte da sua irmã”.
As pernas de Irene tremeram. O instinto seguinte foi abraçar o seu filho, Evan (que tem este nome como homenagem à sua tia Eve).
“Comecei a chorar porque pensei que nunca iria ouvir aquelas palavras”, confessou Irene, à NBC.
Herbert Rice.
Eis o nome do criminoso que raptou, violou e matou Eve, há mais de quatro décadas.
Não adianta procurá-lo. Herbert morreu. Cancro. Em 1991.
Por isso, não foi fácil confirmar o ADN do assassino. Mas o FBI chegou à confirmação através do ADN de um dos seus filhos. Quando os detectives chegaram a casa do filho e explicaram o que iam fazer, o filho ficou estupefacto; não tinha a mínima noção do passado do seu pai.
Foi uma investigação prolongada, exaustiva. Dezenas de ruas percorridas, centenas de pessoas interrogadas.
Herbert Rice era discreto. Ninguém suspeitava dele, apesar de ter cadastro por crimes menores – e, por não serem crimes violentos, nunca teve a obrigação de ceder uma amostra do seu ADN.
42 anos depois, Irene ficou a saber quem tinha matado a sua irmã: “Sempre quis isto durante estes 42 anos, queria fechar este assunto”.
“O meu objectivo era ser mãe. Nunca me permiti sonhar mais do que isso porque tinha medo de que alguém me matasse”, continuou.
Mas, agora que sabe a verdade… “Não consigo processar o facto de saber que isto está resolvido e que eu ainda estou aqui, viva”.
Deus tarda mas não falha. Para ser feita justiça esse violador assassino devia sofrer bastante antes de morrer.
Não falha, pouco!…
Neste caso não só deixou violar e matar uma mulher, como não ajudou a encontrar o culpado – que só foi descoberto 42 anos depois – quando o criminoso já tinha morrido há 31 anos!
O mundo havia de ser bonito se estivéssemos à espera dos deuses para resolver alguma coisa!…
Vá dizer isso aos ucranianos. Especialmente aos de Bucha…
Se ele existe então é muito injusto… E está sempre a falhar, principalmente com os pobres e os desprotegidos!