Paleontólogos celebram “final feliz” com o museu de Abu Dhabi revelado como sendo o proprietário, depois de temerem implicações pela venda a um comprador secreto.
A 6 de outubro de 2020, um misterioso comprador pagou um recorde de 28,9 milhões de euros pelo famoso esqueleto do Tyrannosaurus rex, conhecido como Stan.
O esqueleto raro e quase completo do dinossauro desapareceu rapidamente do olhar do público. Os paleontólogos ficaram preocupados que a venda em leilão a um comprador secreto fizesse subir o custo destes esqueletos, negando aos investigadores e ao público o acesso aos mesmos, segundo o The Guardian.
Um ano e meio mais tarde, o comprador foi finalmente revelado. Através de registos comerciais americanos, a National Geographic rastreou o carregamento de 5,6 toneladas em maio de 2021 de Nova Iorque para os Emirados Árabes Unidos.
O mistério foi resolvido: Stan dirigia-se para Abu Dhabi, para ser exposto no futuro museu de história natural da cidade, um projeto com 377.000 pés quadrados em construção na ilha de Saadiyat, um distrito de artes de luxo na capital.
O Museu de História Natural de Abu Dhabi, cuja conclusão está prevista para 2025, “apresentará algumas das mais raras maravilhas da história natural jamais encontradas”, segundo um comunicado de imprensa do departamento de cultura e turismo de Abu Dhabi.
O museu disse à National Geographic que iria construir e gerir uma instalação de investigação com foco na zoologia, paleontologia, biologia marinha, ciências da terra e investigação molecular.
Para além do esqueleto com cerca de 67 milhões de anos, o museu apresentará também um fragmento do meteorito Murchison, um meteorito rico em carbono que se desintegrou em 1969 na Austrália.
Contém compostos orgânicos de “poeira de estrelas“, bem como grãos pré-solares com sete biliões de anos que se formaram antes do sol. O meteorito tem fascinado os investigadores durante décadas.
“A história natural tem uma nova casa aqui em Abu Dhabi, e vamos contar a história do nosso universo através de alguns dos mais incríveis espécimes conhecidos pela humanidade”, afirmou Mohamed Khalifa al Mubarak, presidente do departamento de cultura e turismo de Abu Dhabi, numa declaração.
“Estes são dons raros da natureza que temos orgulho em proteger e partilhar com o mundo”, acrescentou o dirigente.
Sendo um dos esqueletos mais famosos e mais estudados do mundo, Stan foi descoberto em 1992 na Dakota do Sul. Durante mais de 20 anos, o fóssil foi protegido e estudado no Instituto privado de Investigação Geológica Black Hills.
Ao longo dos anos, o institudo de Black Hills fez centenas de réplicas de Stan que foram expostas globalmente em museus e em casas de celebridades, incluindo a do ator Dwayne “The Rock” Johnson.
Contudo, após um conflito legal entre os irmãos Pete e Neal Larson, dois dos maiores acionistas do instituto, um juiz ordenou a venda do Stan em 2018, e deu-se o leilão mais caro de sempre para um fóssil, na Christie’s New York.
Após o famoso esqueleto ter desaparecido nas mãos do seu comprador privado, os paleontólogos ficaram preocupados que o preço pudesse impulsionar ainda mais o comércio ilegal de fósseis e impedir os museus com orçamentos mais reduzidos de obterem espécimes para pesquisa e exposição.
Outros, segundo a National Geographic, receavam que o leilão do Stan pudesse limitar cada vez mais a investigação nos Estados Unidos, se mais proprietários optassem por vender os fósseis publicamente.
No entanto, ao ouvir o anúncio da nova casa de Stan em Abu Dhabi, muitos paleontólogos ficaram aliviados.
“Se Stan pode inspirar uma nova geração a proteger o passado e a conservar a biodiversidade do nosso planeta no futuro, isso é o que eu chamo um final feliz“, afirmou Lindsay Zanno, paleontóloga do Museu de Ciências Naturais da Carolina do Norte, em entrevista à National Geographic.
David Evans, paleontólogo do Museu Real de Ontário de Toronto, referiu que se Stan fazia parte da coleção permanente do museu de Abu Dhabi e não fosse apenas um empréstimo temporário de um colecionador privado, então o fóssil poderia “aumentar o interesse científico pelos dinossauros numa parte do mundo que tem grande potencial para novas descobertas fósseis“.