Jovens portugueses votam cada vez menos, mas não deixam de ser politicamente interessados

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António Pedro Santos / Lusa

A participação eleitoral dos jovens portugueses é cada vez menor, mas não deixam de ser politicamente interessados.

Numa geração marcada por temas que pedem urgência na sua resolução, como é o exemplo da questão climática, as gerações mais jovens preferem ir para a rua, assinar petições ou boicotar marcas, do que votar, segundo o Público.

A ideia de que os jovens estão desinteressados da política é repetida, quando o tema é a abstenção e a participação eleitoral.

No entanto, se é verdade que os jovens participam cada vez menos nas eleições, também é verdade que são cada vez mais ativos em formas de participação política “não-eleitoral”.

Com estruturas partidárias profundamente hierarquizadas e campanhas eleitorais marcadas por temas muitas vezes distantes da juventude, os modelos de participação mais “convencional” são cada vez “menos desafiantes” para gerações que querem respostas “mais urgentes” e que dêm “maior voz aos participantes” – o que não significa que os jovens não se interessam por política. Pelo contrário.

O que está a mudar é a forma como as gerações se expressam politicamente. Essa é uma das conclusões apresentadas esta quinta-feira no estudo sobre a Participação Política da Juventude em Portugal, promovido pelo Fórum Gulbenkian Futuro, em parceria com o Centro de Estudos e Sondagens de Opinião da Universidade Católica Portuguesa (CESOP) e em colaboração com as universidades de Aveiro, Lisboa, Minho e Porto.

Uma das razões do afastamento dos jovens das urnas de voto é uma estratégia de comunicação e mobilização dos partidos “inadequada para os mais jovens”.

Os exemplos mais óbvios são os temas que os partidos levam às eleições e que acabam por responder a eleitorados mais velhos, nota Pedro Magalhães, um dos coordenadores do estudo.

Se por um lado há “questões ligadas ao ciclo de vida” dos eleitores ― como ter um emprego ou filhos ― “o que se discute numa eleição está sistematicamente arredado daquilo que são os temas que mais interessam aos jovens, como a educação, a precariedade de emprego, a habitação e o ambiente”.

Nas legislativas de janeiro, por exemplo, foram os impostos e as pensões de reforma que marcaram a campanha eleitoral. O resultado é “um ciclo vicioso”, diz o politólogo.

Além de os jovens terem “maior relutância” em integrar estruturas “mais convencionais, institucionalizadas e hierarquizadas de participação política” e optarem pela “participação mais centrada no indivíduo“, a “própria reputação dos partidos faz com que os jovens pensem que qualquer articulação [com os partidos] pode contaminar as suas causas”, afirma Pedro Magalhães.

Uma visão negativa dos atores políticos que se estende às juventudes partidárias, vistas como “predominantemente instrumentais” para a captação de eleitorado jovem.

Mas a ida às urnas ou a comícios partidários é uma visão “muito limitativa2 do que é a participação política.

Na realidade, é em concreto do voto que os jovens (à semelhança do que acontece com a generalidade do eleitorado) se têm afastado.

Este fenómeno, sinaliza o estudo da Gulbenkian, acontece especialmente à esquerda do espectro político, uma vez que “há uma tendência para quem se posiciona à direita de maior propensão para votar”. Já a esquerda tem “maior propensão” para outros modelos de participação, “especialmente manifestações“.

Quotas para jovens?

Uma vez que os jovens não se revêm nas estruturas partidárias ― sentem que são vistos como “imaturos e pouco autónomos” ― acabam por canalizar as suas “motivações” para “outras esferas”, onde se sentem “mais realizados” e acreditam que poderão “dar vazão a um sentimento de urgência“. E o tempo da democracia representativa não é feito de urgências, sublinha Pedro Magalhães.

“É feito de demoras, de compromissos, negociações e silêncios”, o que é “muito difícil de tolerar para os jovens” entrevistados, até mesmo para os que têm militância partidária. “Há um sentimento de lentidão, falta de resposta e hierarquização” na política mais tradicional e “tudo o que passe por articulação com partidos é visto com ambivalência”, nota.

Além de não se reverem nos partidos, a perceção de representatividade no Parlamento também não é expressiva.

Com uma média de idades de 48 anos, o Parlamento émuito envelhecido“, assinala o investigador, que propõe a discussão da criação de quotas para jovens nas listas candidatas – em lugares elegíveis.

“De um ponto de vista da justiça geracional, até que ponto os interesses dos mais jovens e dos que não nasceram são representados nas decisões que são tomadas” na Assembleia da República, questiona Pedro Magalhães.

A perceção que cresce entre os jovens é, por isso, que “a política não está no Parlamento”, mas noutros caminhos, nomeadamente nas ruas.

Há “uma revolução participativa”

“Quando olhamos para a participação política no discurso político normal, estamos sempre muito agarrados à participação eleitoral”, contextualiza Pedro Magalhães.

“O retrato que fica é de um grande afastamento e passividade dos jovens, o que leva muita gente a pensar que os jovens estão distanciados e desinteressados da política no sentido lato”, prossegue o politólogo.

Se alargamos o espectro da participação política a outras modalidades além do voto, vemos que há cada vez mais jovens adultos (até aos 34 anos) a doar dinheiro, a recolher fundos, a comprar ou boicotar certos produtos por razões políticas ou ambientais, ou a assinarem petições, lê-se ainda no estudo.

São, aliás, os jovens os protagonistas do recente aumento destas formas de mobilização social e política.

É entre os mais jovens que mais tem crescido a procura de informação sobre política, especialmente através das redes sociais, e é lá que se participa em fóruns políticos, se comenta ou partilha conteúdos políticos.

Trata-se, como lhe chama o politólogo alemão Max Kaase, de uma “revolução participativa” que desconstrói o mito de “apatia da juventude” e o substitui por um desinteresse na “máquina democrática”.

A conclusão do estudo é uma: “Os rumores sobre a morte da política entre os jovens têm sido francamente exagerados”.

ZAP //

1 Comment

  1. Normal ,Lideres De Partidos Com Mais De 50 anos ;discursos Cheios de Chavoes , O Balde de Agua Fria constante de Promessas Nao cumpridas , Todos os meses escandalos com Vigariçes de Milhoes ,a Lei portuguesa que aparenta ter sido feita para todos ,menos para o poder politico

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