A Grande Demissão continua a originar consequências. Há empresas de tecnologia a caminho do desespero, porque não conseguem contratar.
A «Grande Depressão» foi substituída, quase um século depois, pela «Grande Demissão». Em 2021, esta foi uma das expressões mais utilizadas no mundo do trabalho nos Estados Unidos da América, que serve para retratar os milhões de norte-americanos que deixaram o respectivo emprego por iniciativa própria.
Cansaço, ou mesmo esgotamento, intenção de mudança de carreira, mais teletrabalho, desejo de maior liberdade… Os motivos são vários.
E os números não pararam de subir: nos últimos oito meses, a média mensal de demissões por vontade do trabalhador foi sempre superior aos registos que havia antes do aparecimento do coronavírus.
No final do ano passado, só em Novembro, 4.5 milhões de residentes nos EUA deixaram os seus empregos porque quiseram. E cerca de um milhão desse total trabalhava em restauração ou hotelaria.
Mas não é só em restaurantes ou hotéis que a situação está complicada, para os responsáveis por empresas. No mundo tecnológico o cenário não é melhor, para quem emprega.
A revista Wired centrou-se em exemplos de empresas ligadas à tecnologia, que estão mesmo a ficar “desesperadas”. E o desespero não atinge somente empresas americanas.
Por exemplo, no Reino Unido as demissões por parte de trabalhadores nunca foram tantas, desde 2009.
Na empresa britânica Showhere há espaço para 16 novos trabalhadores. Entre programadores, gestores de projecto e designers… Não há interessados. Pelo menos, não há interessados com as competências que a fundadora Joy Nazzari quer.
“Nunca foi tão difícil, nem tão caro, contratar pessoas. Além disso, precisamos de manter, de defender quem já está cá, porque elas estão a ser procuradas no LinkedIn e ouvem relatos de amigos atraídos por salários maiores”, comentou Joy.
No sector das tecnologias, cerca de 76% dos patrões estão com dificuldades em completar a sua equipa de trabalho. Por isso, oferecem salários mais elevados e melhores condições: na licença parental, nos valores pagos para licenças, e até na permissão para o trabalhador se ausentar para tratar de adopção de animais.
A directora da Kolabtree, Ashmita Das, já nem olha para a morada dos candidatos: “No ano passado, deixámos de considerar a localização das pessoas, no processo de recrutamento. Contratamos quando e onde podemos”. O teletrabalho tem sido cada vez mais uma opção; e tem tendência a subir ainda mais, neste ano.
E mais: há empresas que oferecem dinheiro aos candidatos se estes aparecerem na entrevista de emprego. O exemplo citado é alemão; a DFV Deutsche Familienversicherung paga 500 euros a cada um dos candidatos escolhidos para a lista final do processo – se eles aparecerem na entrevista.
Por falar em dinheiro, nos EUA o salário médio para trabalhadores ligados à tecnologia subiu 7%, nos últimos dois anos; agora está em quase 7 mil euros por mês.
Nos EUA os empregados recebem 12 meses, enquanto que em Portugal se recebe 14, pelos mesmos 11 meses de trabalho.
Além disso os custos são muito mais elevados, um café normal custa no mínimo 3-4$, enquanto cá custa 0,70€. A renda de um T2 nos subúrbios custa à vontade 2000$.
Por aí vemos que o custo e qualidade de vida não é assim tão diferente.
O salário médio de um programador lá depende muito de estado para estado, mas na Califórnia anda por volta dos 12 mil euros.
Amigo, não vá por aí.
O salário médio de um programador nos EUA é 10x o de Portugal (e pode ser bem maior em alguns Estados/cidades). Nada é 10x mais caro. Sim, há coisas bem mais caras (ex: ir ao restaurante), mas experimente ir ao supermercado, é apenas um pouco mais caro. E muita coisa é mais barata, por ex, gasolina, energia, electrónica de consumo, carros. Para além disso, impostos como IRS e IVA são MUITO mais baixos.
Quem nos EUA faz uma carreira num emprego bem pago, reforma-se mais ou menos quando quer, sem ter que se preocupar com a reforma do Estado (que é baixa).
Tem que contar que nos Estados Unidos não tem segurança social, se partir um braço vai ter de pagar do seu bolso ou então tem de ter um seguro que lhe custa bem mais do que os 11% que aqui lhe retiram do salário.
Em Portugal os salários podiam ser bem maiores se não fossem os impostos, só em segurança social são mais de 20%
Vivo nos EUA há alguns anos. Não só os ordenados são muito mais altos, como depois o líquido é ainda mais alto por via dos baixos impostos. Não tem comparação, não só com Portugal, mas com a Europa em geral, porque são 2 aumentos combinados: o bruto é superior e os impostos são mais baixos.
Toda a gente tem seguro pela empresa, em especial profissionais qualificados. Algumas profissões são mal pagas mas depois têm um seguro fantástico (ex: professores). Cabe a cada um decidir o que fazer com a quantidade de dinheiro a mais que recebe. Há os que estouram em casas, carros, viagens, e há os que poupam para o futuro.
Falas de uma minoria de americanos como se fosse a maioria!…
Não é por acaso que os EUA têm a maior desigualde social entre os países civilizados.
É a realidade de qualquer profissional qualificado. E é a realidade de qualquer profissional menos qualificado que goste de trabalhar. Eletricistas, canalizadores, etc., ganham muito bem. Prefiro desigualdade social a igualdade de resultados, que é o que cada vez mais há em Portugal, país de ordenados mínimos. Não há grande incentivo em estudar e trabalhar no duro, quando depois na prática o resultado ao fim do mês não varia muito.
“Toda a gente tem seguro pela empresa “
“ Algumas profissões são mal pagas mas depois têm um seguro fantástico ”
Não sei onde vives mas a realidade que conheço é bem diferente, tanto em Chicago, IL como em Washington DC as coisas estão longe de ser assim para o funcionário comum, se falas de gestores e directores para cima, talvez, mas o escriturário tem um seguro básico e o seguro de trabalhos.
É a realidade que conheço, e é realidade de qualquer profissional qualificado. Tenho um colega que foi despedido com 50 e poucos anos, fruto de alterações estruturais na empresa. Rapidamente arranjou emprego noutra empresa igualmente bem pago. E não era gestor nem diretor.
Por aqui é 12000 mil mas é por ano
É um movimento natural de sobrevivência, se de facto se tratar de sair de um sistema que destrói a qualidade de vida dos trabalhadores em proveito do lucro sempre maior para grupos económicos que funcionam em oligarquia.
Por aqui se vê que não tivéssemos contratos de trabalho tão rígidos para as empresas podíamos dinamizar a distribuição de riqueza nas empresas.
Tal como refere o texto, quando o empregado é bom as empresas procuram contratar-lo enquanto o actual empregador tenta manter-lo.
Agora esta história de trabalho igual = salário igual e que uma empresa não pode despedir os maus funcionários só prejudica.
O trabalho pode ser o mesmo mas há quem o desempenhe mais rápido ou melhor, mas os incentivos são mínimos nesse sentido porque as empresas não podem dar bónus ou aumento a esses empregados porque a lei não permite discrepância de salários para a mesma posição.
A uniformização é a falta de produtividade, para que fazer mais se ganho o mesmo.