Um em cada sete votos nestas legislativas não elegeu ninguém

André Kosters / Lusa

O actual sistema eleitoral português beneficia os maiores círculos eleitorais e os dois maiores partidos. No caso de Portalegre, que elege dois deputados, mais de metade dos votos foram inúteis.

Nestas eleições legislativas, 671 557 votos acabaram por ser inúteis por não terem elegido ninguém — um valor que é quase 13% do total dos votos válidos.

Os números são do politólogo Luís Humberto Teixeira e do programador Carlos Afonso, que criaram o portal “O meu voto“, que faz os cálculos sobre quais os votos que realmente elegeram alguém, de acordo com o círculo eleitoral e com o partido em que se votou.

“Há cerca de uma em cada sete pessoas cujo voto não contou”, revela Luís Humberto Teixeira ao Expresso. Os partidos médios tendem a ser os mais castigados, enquanto que o PS e o PSD não costumam sofrer com o método actual.

Em números absolutos, o Bloco de Esquerda foi o partido que mais sofreu nestas legislativas, tendo 112 417 votos no partido de Catarina Martins não valido para a eleição de um deputado. Seguiu-se o Chega (95 512), a CDU (88 401), o CDS (86 758) e a Iniciativa Liberal (81 068).

O caso do CDS é ainda mais gritante, já que, no total, o partido teve mais votos do que o PAN e do que o Livre — que ambos elegeram um mandato —, mas acabou por perder toda a sua representação parlamentar. Isto pode acontecer caso um partido tenha os muitos votos que estão dispersados por todo o país, não reunindo o mínimo em nenhum círculo eleitoral para eleger um deputado.

Em temos percentuais, 71,44% dos votos no PAN foram para ‘o lixo’, seguindo-se o Livre (58,19%). Já o PSD teve apenas 1,55% dos votos desperdiçados ao não eleger em Beja e em Portalegre, enquanto que o PS, ao eleger em todos os círculos eleitorais, não teve nenhum voto inútil.

O sistema eleitoral actual também beneficia os círculos eleitorais maiores, já que os mais pequenos têm menos mandatos para distribuir, o que aumenta a probabilidade de que um voto que não vá para os dois maiores partidos seja desperdiçado.

Portalegre foi o distrito mais prejudicado nestas legislativas, tendo 51,82% dos votos não elegido nenhum deputado porque os dois mandatos do círculo eleitoral foram para o PS.

“É já a segunda vez seguida que isto acontece neste distrito”, nota Luís Humberto Teixeira, que já estuda o sistema eleitoral português há mais de 20 anos e acredita que este acaba por incentivar a abstenção.

Em busca de uma solução melhor, desenvolveu com Carlos Afonso, a petição “Por uma maior conversão dos votos em mandatos”, que conta de momento com 2239 assinaturas. O movimento propõe três alternativas — a criação de um círculo de compensação, que já acontece nos Açores, implementar um círculo único ou reduzir-se o número de círculos eleitorais de 22 para nove.

Adriana Peixoto, ZAP //

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