Ativistas mexicanas estão a ajudar mulheres que vivem no Texas e noutros estados norte-americanos a abortar.
No passado dia 1 de setembro, entrou em vigor uma lei no Texas que proíbe o aborto após seis semanas – quando muitas mulheres ainda nem sabem que estão grávidas -, mesmo em casos de incesto ou violação. Esta é a lei do aborto mais radical nos Estados Unidos e os protestos não se fizeram esperar.
Mas agora, conta o jornal The New York Times, ativistas no México querem ajudar. Isto porque, uma vez que em grande parte da América Latina o acesso à interrupção voluntária da gravidez sempre foi muito limitado, grupos feministas sabem como contornar as autoridades e distribuem medicamentos que induzem o aborto.
Uma dessas ativistas é Verónica Cruz, que durante muitos anos ajudou milhares de mexicanas a abortar (agora já é legal no país). Juntamente com outras companheiras de luta, planeia ajudar a transportar para o México mulheres do Texas e de outros estados norte-americanos que não o conseguem fazer.
Mas também criar redes que transportem pílulas abortivas à fronteira com os EUA ou que as enviem pelo correio, algo que estas mulheres já começaram a pôr em prática e que agora pretendem expandir.
O método é controverso, mas os especialistas consideram que é muito difícil punir criminalmente estas pessoas que distribuem as pílulas, sobretudo porque são mexicanas. Teriam de ser detidas no Texas, ou então extraditadas.
Em causa está o medicamento misoprostol, criado originalmente para tratar úlceras de estômago, mas que também pode induzir o aborto. Tomá-lo sozinho, ou em conjunto com outro chamado mifepristona, causa o que se chama de “aborto com medicamentos”.
Estes grupos, muitas vezes em coordenação com aliados na comunidade médica, não só fornecem estas pílulas abortivas a quem precisa, como acompanham todo o processo, dando aconselhamento médico e apoio psicológico.
É por isso que Giselle Carino, diretora executiva da aliança Fòs Feminista, diz que a chegada destes medicamentos foi “revolucionária”, mas “não teria sido tão eficaz a salvar vidas de mulheres sem estas redes feministas e estes profissionais de saúde dispostos a participar na desobediência civil”.
Se forem apanhadas, estas ativistas arriscam ser presas, mas Cruz diz que não há medo, apenas muita vontade de ajudar.
“Não temos medo. Estamos dispostas a enfrentar essa criminalização. Porque a vida das mulheres vale mais do que a lei”, disse ao jornal nova-iorquino.