Após 14 anos em desenvolvimento, o novo telescópio espacial James Webb, da NASA, sucessor do mítico Hubble, está finalmente pronto para ser lançado.
A NASA adiou o lançamento do telescópio espacial James Webb para 25 de dezembro, devido ao mau tempo. Segundo o The Guardian, o telescópio deveria ser lançado esta sexta-feira, 24 de dezembro, mas as condições meteorológicas não o vão permitir, obrigando a NASA a adiar para 25 de dezembro.
O James Webb, um investimento de 10 mil milhões de dólares, foi construído para captar a luz das primeiras galáxias a formarem-se depois do Big Bang. Vai permitir aos cientistas estudar a atmosfera dos planetas que orbitam em torno de estrelas distantes, e procurar sinais de vida.
Este é o maior telescópio espacial alguma vez construído. O seu espelho principal é seis vezes maior que o do mítico telescópio espacial Hubble.
A missão do James Webb conta com a participação da astrónoma portuguesa Catarina Alves de Oliveira, que é responsável pela sua calibração.
O espectrógrafo NIRSpec, instrumento do telescópio operado pela astrónoma portuguesa, foi desenhado para detetar a luz das primeiras estrelas e galáxias que se formaram, cerca de 400 milhões de anos após o Big Bang.
O lançamento do novo telescópio já foi adiado tantas vezes, que alguns astrónomos já não acreditavam que iria realmente acontecer, realça a NPR.
Tanto o telescópio como o foguete que o leva a bordo estão finalmente prontos, embora ainda persista um problema relativamente à comunicação entre ambos — uma questão já levou a um atraso de dois dias. Mas a NASA garante que o problema não vai impedir o lançamento, desta vez.
Megan Bedell, investigadora do Centro de Astrofísica Computacional do Instituto Flatiron, refere que “é uma loucura pensar que este observatório incrível pelo qual todos nós ansiamos há anos, vai estar pronto e a funcionar e breve“.
O planeamento de James Webb começou há mais de 30 anos, antes de o famoso Hubble ser lançado, em 1990.
Garth Illingworth, antigo diretor do Instituto de Ciência e Telescópios Espaciais, em Baltimore, recorda-se que o seu chefe, Riccardo Giacconi chegou ao trabalho numa manhã de 1980, e disse que era altura de começar a pensar no sucessor do Hubble.
O antigo dirigente achou que ainda era demasiado cedo, e ainda se estavam a realizar operações no Hubble, mas Giacconi avisou-o: “confia que ainda vai demorar muito tempo a ser desenvolvido”.
Um grupo de três pessoas do Instituto começou a pensar em novos conceitos para criar um sucessor do Hubble que tivesse sucesso e fosse uma versão melhorada.
A partir daí, as ideias começara a surgir e a construção começou em 2004. O seu nome foi dado em homenagem ao antigo administrador da NASA.
O James Webb vai ser lançado a bordo de um foguetão europeu Ariane 5, da base da Agência Espacial Europeia (ESA), na Guiana Francesa, e resulta de uma colaboração entre a NASA, a ESA e a Agência Espacial Canadiana.
Catarina de Oliveira “ao leme” do James Webb
Catarina Alves de Oliveira é astrónoma e trabalha no Centro de Operações Científicas da Agência Espacial Europeia, em Espanha.
A seu cargo está a calibração de um dos quatro instrumentos do telescópio, o espectrógrafo NIRSpec, fornecido pela ESA.
A portuguesa vai participar na “campanha de preparação” do telescópio para observações científicas, que iniciaram ao fim de seis meses. Os primeiros dados estão previstos chegar em 2022.
Em entrevista à Lusa, Catarina explicou que ia estar “no centro de controlo da missão nos Estados Unidos, a monitorizar o estado de desempenho do NIRSpec“.
“Também estarei envolvida na calibração deste instrumento, analisando alguns dos primeiros dados que o Webb vai adquirir no espaço”, acrescentou. Catarina de Oliveira vai “dar apoio à comunidade científica para que aprenda a usar os instrumento do Webb da melhor forma”.
O novo telescópio espacial foi construído para “descobertas revolucionárias em todos os campos da astronomia”, explica a astrónoma.
Ao mesmo tempo, “é um feito notável de engenharia”. Tem “o maior espelho alguma vez lançado para o espaço, composto de 18 segmentos hexagonais revestidos de ouro, com um diâmetro de 6,5 metros”.
“Isto faz com que seja 100 vezes mais sensível do que o telescópio Hubble“, realçou Catarina de Oliveira.
Para o James Webb caber no foguetão que o vai transportar, vai ter de “ser dobrado”. “Uma vez no espaço, será efetuada uma sequência de montagem até atingir a sua configuração final”, esclareceu a portuguesa.
O telescópio vai ganhando forma, à medida que viaja até ao seu destino, a 1,5 milhões de quilómetros da Terra, o equivalente a quatro vezes a distância que separa o planeta da Lua”.
A viagem vai demorar cerca de uma mês, seguindo-se “a fase de alinhamento do espelho segmentado, e testes para comprovar o funcionamento de instrumentos”, nota a astrónoma.
Uma das técnicas que os instrumentos do telescópio utilizam é a espectroscopia, que “divide a luz que entra” no engenho, “em vários comprimentos de onda, oferecendo uma informação mais detalhada” dos corpos celestes.
A cientista dá como exemplo “os movimentos de uma galáxia ou as moléculas presentes na atmosfera de um planeta”.
De acordo com a ESA, o espectrógrafo NIRSpec vai dividir a luz infravermelha das estrelas e galáxias nas suas componentes de cor, e fornecer aos cientistas informações sobre a sua composição química, propriedades, idade e distância.
O NIRSpec será também usado para estudar as fases iniciais do nascimento de estrelas da Via Láctea, e analisar as propriedades atmosféricas de planetas extrassolares, “avaliando o potencial de vida noutras partes do Universo“, frisa ainda Catarina Alves de Oliveira.
A cientista trabalhou vários anos nos Estados Unidos, “para assegurar a contribuição da ESA na fase de desenvolvimento” do telescópio.
Já participou nas “campanhas de teste” que decorreram nos centros da NASA, neste projeto que dura há mais de 30 anos.
“O que, esperamos, abrirá as portas para descobertas fantásticas“, frisou a astrónoma portuguesa.