Com a pandemia e o uso de consultas à distância, cada vez mais terapeutas decidiram incorporar os videojogos nas terapia. Entre redução da ansiedade ou treino da frustração, há bastantes benefícios.
No início da pandemia, o terapeuta familiar Monet Goldman tentou métodos comuns para tentar lidar com o stress, como o exercício físico ou a meditação. Nada estava a resultar, até Goldman voltar a um passatempo já conhecido – os videojogos.
Ao ver os seus colegas de profissão a ter dificuldades em dar apoio aos clientes à distância, o terapeuta começou a pensar se os jogos podiam ajudar a fazer essa ponte e a treinar outros especialistas para usar os jogos no trabalho, começando com o Roblox.
Tal como a terapia convencional que usa jogos e brinquedos para ajudar os pacientes a expressar os seus pensamentos, os videojogos são outro veículo que ajuda à comunicação, escreve a Wired.
Especialmente para pessoas com ansiedade sobre a sua aparência ou sobre como falam, os videojogos são uma oportunidade de descobrir “uma voz nas suas formas diferentes”, diz Goldman, que realça os bons efeitos na confiança das crianças.
O uso dos videojogos para fins terapêuticos não é novo, mas explodiu com a pandemia, que obrigou a que as consultas passassem a ser feitas à distância.
“Muitos terapeutas estavam a passar-se”, afirma Josué Cardona, fundador da Geek Therapy, uma organização sem fins lucrativos que apoia o uso destes jogos na terapia. Em Dezembro de 2019, o grupo de Facebook desta organização tinha menos de 1000 membros, agora são mais de 5400.
“Os videojogos são uma forma de captar a atenção e mantê-la”, o que pode ajudar os pacientes a controlar pensamentos negativos, segundo a psicóloga Aimee Daramus, que já usou estes métodos no tratamento de adultos com ansiedade, depressão e esquizofrenia. Nestas sessões, o estado de consciência plena é mais acessível.
Há até pesquisas que sugerem que os videojogos podem ser ainda mais eficazes que outras estratégias de terapia. Um estudo de 2017 concluiu que o jogo MindLight era tão eficaz como um programa de terapia cognitiva na redução da ansiedade das crianças e outra investigação mostrou que receitar um videojogo era melhor para reduzir a ansiedade dos pacientes do que adicionar outra medicação ao tratamento.
Já o clássico Tetris também ajuda a reduzir o risco de stress pós-traumático após a visualização de um filme traumático, concluiu um estudo de 2009, visto que o jogo “rouba a atenção e a memória que evitam que alguém pense nessas memórias constantemente enquanto o cérebro as forma”, afirma Daramus.
A regulação emocional também melhora, já que o uso dos jogos treina a tolerância à frustração nas crianças quando perdem e também a paciência, quando os jogos têm falhas e lag.
O possível incentivo ao vício também é uma preocupação, especialmente depois de uma análise em 2020 de 53 estudos ter concluído que aproximadamente 3% dos gamers estão viciados nos jogos.
Larry Rosen, ex-presidente do Departamento de Psicologia da Universidade da Califórnia, defende que os videojogos podem promover a modificação comportamental e levar ao vício, já que quanto mais jogamos, mais hormonas como a dopamina ou a serotonina libertamos.
Com o crescimento dos jogos online, os clínicos precisam de regras éticas mais definidas sobre como usá-los, segundo Daramus. O desafio é garantir que os terapeutas não façam o seu trabalho da forma que é mais divertida, mas sim “da forma que é certa para o cliente”.
Mesmo quando a pandemia acabar e as consultas presenciais voltarem, o mais provável é que os videojogos continuem a ser usados na terapia, já que quando todas as estratégias tradicionais falham, o gaming pode ser o último recurso para ajudar os pacientes.
“A terapia pode ser intimidante e difícil”, afirma Goldman, pelo se for preciso ligarem-se a um cliente através do World of Warcraft, os terapeutas têm de fazer “o que for preciso” para os ajudar.