Será possível reverter os irritantes cabelos brancos? Os cientistas tentaram descobrir

(dr) Envato Elements

Cientistas acreditam que nos próximos anos conseguirão, em laboratório, reverter este sinal de envelhecimento, numa espécie de fenómeno Benjamim Buttton.

Ao longo dos anos, os cabelos brancos — ou cinzentos — tornaram-se um sinal de envelhecimento, já que o seu aparecimento acontece, muitas vezes, quando os indivíduos atingem idades mais elevadas, algo que se tenta contrariar — ou camuflar — com recurso à coloração, por exemplo. Mesmo assim, assistiu-se, mais recentemente, a movimentos de aceitação, com muitas mulheres (sobretudo) a renunciarem ao hábito de tingirem as raízes do seu cabelo para disfarçar o facto incontornável de estarem a envelhecer.

Apesar deste movimento, a questão não foi abandonada, com algumas empresas, farmacêuticas e até de cosmética, a apostarem recursos na produção de suplementos que permitam reverter o fenómeno. Entre essas empresas destaca-se, por exemplo, a L’Oreal. A gigante francesa manifestou essa intenção em 2011, mas um representante da empresa anunciou que o projeto foi abandonado — algo que pode ser indicativo da dificuldade, ou impraticabilidade, da tarefa.

Os mecanismos químicos e biológicos que estão na origem da cor do cabelo são complicados, com os especialistas a atribuíram, de forma muito simplificada, os cabelos brancos à perda de pigmentação. De facto, com a idade, verifica-se uma perda de pigmentação, algo que tem uma clara influência e determinação genética. Ainda assim, há casos — não raros — em que os cabelos brancos podem aparecer mais cedo, com os cientistas a apontar a carência de algumas vitaminais (como a B6, a B12, a D e a E) como fator de aceleração do processo.

Simultaneamente, o stress oxidante também pode assumir um papel preponderante, por influência de fatores internos (como uma dieta pouco saudável) ou ambientais (como uma forte exposição à radiação UV). O tabagismo, por sua vez, também terá um peso preponderante, já que, de acordo com estudos recentes, os fumadores são duas vezes mais prováveis de ter cabelos brancos antes dos 30 do que os restantes indivíduos.

Em última análise, os produtos capilares usados para pintar e descolorar o cabelo, devido à grande quantidade de químicos que comportam, também são um fator a ter em conta. De acordo com Craig Zierin, desmatologista, o uso frequente de descolorantes pode levar a que os fios de cabelo se tornem efetivamente brancos.

De facto, há toda uma indústria a perseguir o objetivo de fazer com que os cabelos brancos apareçam, mas os cientistas parecem concordar, de forma unânime, que assim que eles aparecem, dificilmente podem ser revertidos. “Apesar de existirem défices de nutrientes e problemas de saúde que podem gerar o aparecimento prematuro dos cabelos brancos, é impossível restaurar a cor natural dos cabelos se as brancas tiverem como origem um fator genético ou o envelhecimento natural“, aponta Zierein.

Há, ainda assim, boas notícias para quem tenha como objetivo reduzir o número de cabelos brancos — já que, como vimos, assim que eles aparecem dificilmente podem ser revertidos. De acordo com um novo estudo, a chave para esta redução pode estar numa outra redução — pasme-se —, a de stress. De facto, os investigadores chegarem à conclusão que, em alguns indivíduos, verificou-se uma repigmentação do cabelo depois de um período de férias, ou seja, depois de um período em que os níveis de stress foram mais baixos.

O estudo, tal como aponta o Fuff Post, tem as suas limitações, mas parece ilustrar, pela primeira vez, a relação do stress com a cor do cabelo — e de que forma é que a sua redução se irá refletir.

“Não podemos impedir na totalidade que os cabelos fiquem cinzentos. No entanto, este estudo mostra que o envelhecimento é um processo maleável — não se trata de um processo predeterminado e fixo que o ser humano está destinado a sofrer”, explica Martin Picard, investigador da Universidade de Columbia e autor do estudo. “O comportamento e, sobretudo, a perceção do mundo e o stress que criamos para nos parece influenciar como é que as nossas células envelhecem e como, consequentemente, é que os fios de cabelo de vão refletir.”

Para além da redução de stress — uma sugestão que para muitos é difícil de implementar —, os especialistas sugerem outras vias para a possível redução dos cabelos brancos, as quais só serão viáveis se as causas originárias estiverem relacionadas com o estilo de vida ou com deficiências nutricionais.

“Certas vitaminas e minerais ajudam a assegurar que os folículos capilares têm o máximo valor nutricional para desempenhar as funções nutricionais na raiz do cabelo. A primeira seria a produção de pigmentação (a melanina) que o cabelo precisa para manter a sua cor natural”, explica Ziering. Paralelamente “os aminoácidos e as proteínas que geram as nossas funções metabólicas nos folículos também são benéficos“. Como tal, consumir alimentos com as vitaminas referidas anteriormente também pode ajudar, assim como aqueles com antioxidantes, que podem contrariar os efeitos do stress (é o caso da fruta, do chá verde e do peixe).

Comer bem, dormir bem, contrariar o stress externo e evitar fumar, assim como usar protetor solar que proteja o cabelo” são algumas das sugestões deixadas pelos especialistas, que esclarecem ainda que os suplementos que afirmam prevenir os cabelos brancos não resultarão melhor do que uma alimentação saudável e à base de multi-vitaminas.

No que respeita a trabalhos laboratoriais, há projetos que se baseiam no uso de enzimas, como a catalase, que decompõe o peróxido de hidrogénio, conhecido por se acumular na derme dos cabelos brancos, para que possa haver tratamento e prevenção no futuro”, disse Ziering.

“Olhando para o futuro, isto pode um dia ser a base de um tratamento que inverterá o esgotamento do potencial pigmentar dos melanócitos dos bolbos capilares”, disse o dermatologista. Tal não deverá acontecer hoje ou amanhã, mas ainda segundo Ziering, é possível que num futuro próximo estejamos perante um “efeito Benjamin Buttton nos cabelos”, o qual resultará no restauro de um cabelo mais rico, novo e colorido nas pessoas na casa dos 40, 50, 60 anos e até mais tarde.

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