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Há mais de 100 anos, o Hawai teve uma monarquia – mas a força da princesa Ka’iulani não chegou para a preservar

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Princesa Victoria Ka’iulani

Antes de morrer, com apenas 23 anos, a princesa Victoria Ka’iulani foi a última herdeira da coroa havaiana. A jovem era uma das últimas esperanças em manter a monarquia viva, mas nem a sua determinação a salvou.

Em 1875, ano em que a princesa nasceu, o Hawai era um país muito diferente do que tinha sido durante o último século.

Numa série de batalhas, o seu ancestral Kamehameha I liderou milhares de soldados que levaram à vitória sobre uma coleção de pequenos reinos para formar um único reino unido.

As décadas seguintes passaram por uma revolução social, política e económica, com o Cristianismo a tornar-se a religião dominante nas ilhas.

Por outro lado, chegaram ao reino dezenas de diplomatas vindos de nações de todo o mundo que foram desenvolvendo vastas plantações de açúcar, que se tornarem o motor económico do país.

Assim, quando o pai de Ka’iulani, Archibald Scott Cleghorn, chegou a Honolulu em 1851, a capital já era muito parecida com qualquer cidade da Escócia, a sua terra natal.

Havia homens bem vestidos, senhoras que frequentavam eventos sociais e igrejas, e inúmeros mastros de navios baleeiros e mercantes.

Cleghorn construiu um pequeno império mercantil e adaptou-se totalmente à sociedade havaiana, obtendo a cidadania em 1870, acabando por se casar com a princesa Likel no mesmo ano.

Mais tarde, nasceu Ka’iulani, que viveu os seus primeiros anos de vida em Āinahau, – “a mais bela propriedade privada nas ilhas havaianas”, escreve o All That Interesting.

Ka’iulani recebeu uma educação de estilo ocidental que os seus pais acreditavam ser adequada para uma princesa. Esta passava por hábitos como ler, escrever, tocar piano e ter aulas de etiqueta.

Para Ka’iulani foi uma época agradável, passada a brincar com os seus amigos, a montar o seu pónei favorito, a aprender a pintar e a desfrutar da companhia da sua governanta americana, Gertrude Gardinier.

No entanto, por trás do glamour exibido para fora, a família estava numa luta constante para manter o controlo do reino.

Crise constitucional do Hawai leva a uma grande agitação

Em 1886, a mãe de Ka’iulani, a princesa Likelike, adoeceu gravemente. Durante a longa doença, Likelike supostamente previu que a filha deixaria o Hawai durante um longo período de tempo, nunca se casaria e nunca seria rainha.

Quando a princesa Likelike morreu, em 2 de fevereiro de 1887, o reino mergulhou num período de luto nacional e Ka’iulani tornou-se a segunda na linha de sucessão ao trono.

Foi então decidido que a princesa herdeira deveria terminar os seus estudos na Grã-Bretanha – um país que parecia ser um modelo de governação real.

Ao mesmo tempo, o negócio de produtos secos de Cleghorn estava a lutar pela sobrevivência, e o rei Kalākaua estava constantemente no meio de uma grande controvérsia nacional por nomear várias figuras ocidentais para cargos importantes.

Em resposta a este cenários, um grupo de havaianos e barões americanos do açúcar mobilizaram uma milícia contra o rei, conhecida como Honolulu Rifles.

Esta revolução obrigou Kalākaua a renunciar à maior parte do seu poder numa nova constituição – que entregou o controlo do reino a uma legislatura dominada pela Europa.

O rei passou os restantes anos no trono como uma figura meramente representativa e, durante uma viagem a São Francisco em 1890, morreu da doença de Bright.

A queda da monarquia havaiana

A morte do seu irmão foi um choque para a recém-coroada Lili’uokalani, tia da princesa Ka’iulani, que se viu perante um trono com pouco poder.

Em Inglaterra, Ka’iulani estava a chegar ao fim dos seus estudos e “estava a começar a sentir muitas saudades de casa”, escreve o ATI.

Contudo, a princesa permaneceu por terras britânicas, sendo que no seu país de origem, Lili’uokalani redigiu uma nova constituição que restauraria o seu poder.

Em resposta à nova constituição, os proprietários de negócios americanos e europeus em Honolulu criaram uma milícia de homens não-nativos apoiados por marinheiros e fuzileiros navais dos Estados Unidos do USS Boston, que estava ancorado em Pearl Harbor. Contra essa demonstração de força avassaladora, as tropas da rainha ficaram impotentes.

Na varanda sobre a entrada do Palácio Iolani, o advogado da família real, Henry E. Cooper, leu uma proclamação declarando o fim da monarquia havaiana e sua substituição por uma república, “até que os termos de união com os Estados Unidos da América sejam negociados”.

A última defesa de Ka’iulani por um reino havaiano

Em Inglaterra, o mentor de Ka’iulani, Theophilus Davies, aconselhou-a a visitar os Estados Unidos para apelar pela restauração da monarquia.

A jovem aproveitou a oportunidade para fazer uma visita de estado informal ao presidente Grover Cleveland, que classificou o golpe como um “ato de guerra” injustificado, mas não quis, ou não conseguiu, fazer recuar a vasta influência dos barões do açúcar nos círculos políticos de Washington.

Numa altura em que começaram a surgir rumores de guerra com Espanha, em novembro de 1897, Ka’iulani voltou para casa pela primeira vez em oito anos.

A princesa e o seu pai, juntamente com o resto da elite de Honolulu, ofereceram uma receção calorosa às tropas americanas quando a guerra contra a Espanha começou em abril de 1898.

Mas em Washington, o sucessor de Cleveland, William McKinley, convenceu o Congresso a aprovar a anexação da República do Hawai, alegando que as ilhas eram vitais para o controlo do Pacífico.

Sem um reino para governar, Ka’iulani estava à deriva, e a deterioração da situação financeira da sua família ameaçava deixá-la sem um tostão.

Depois de mergulhar numa tempestade impiedosa, a princesa adoeceu e ficou cada vez mais fraca. Levada para a casa da sua infância para se recuperar, a sua condição foi piorando a cada dia, sendo que acabou por morrer em 6 de março de 1899, quando tinha apenas 23 anos.

A morte de Ka’iulani foi um golpe devastador para o seu pai, para a sua tia e todos os havaianos que se opuseram à anexação do país.

A família real havaiana desapareceu da política – assim como a memória da última princesa herdeira do reino.

Contudo, mais de um século após a sua morte, o trágico legado da princesa Ka’iulani foi restaurado.

Atualmente, a princesa é lembrada como uma jovem cujos valentes esforços para proteger a independência do Hawai foram um testemunho digno do seu compromisso com o país.

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