O governador do Banco de Portugal (BdP), Mário Centeno, reconheceu que os juros da dívida em mínimos históricos deram um “contributo para o reequilíbrio das contas públicas”. No entanto, a tendência é para um “contributo” cada vez menor.
No primeiro ano foram 600 milhões, no segundo ano foi metade disso e, em 2022, será de 150 milhões, segundo o Governo, escreve o Observador. Centeno avisou ainda que é preciso reduzir a despesa corrente do Estado.
Mesmo sem contar com as medidas de combate ao impacto da pandemia, a despesa do Estado passou a ter um peso maior na atividade económica nacional. Embora considere isto “normal” e “expectável”, Centeno alerta que é preciso voltar a absorver este acréscimo de dívida para voltar aos níveis pré-pandémicos.
“O peso destas duas áreas [salários e prestações sociais] do Estado no PIB aumentou de forma muito significativa ao longo destes dois anos, 2020 e 2021, insisto, esta tendência é normal, é expectável, aconteceu em todos os países da Europa. Trata-se agora de retomar os níveis anteriores à crise”, defendeu Centeno.
“Não pode ser esquecido” que a cada ano será menor o “contributo” dos juros mais baixos que se pagam pela dívida, avisou o governador do Banco de Portugal.
Mário Centeno alertou ainda que Portugal se irá ter de preparar para a desaceleração económica depois de 2022, apontando à reafetação de recursos na economia nacional.
“Os desafios de crescimento que se colocavam anteriores à crise vão estar outra vez presentes na economia portuguesa”, disse Mário Centeno hoje aos jornalistas, na conferência de imprensa de apresentação do Boletim Económico de outubro, que decorreu no Museu do Dinheiro, em Lisboa.
Segundo o governador do banco central, o país terá de “antecipar uma desaceleração muito significativa do crescimento económico”.
“É preciso que todos estejamos preparados para interpretar o que isso significa”, avisou, rejeitando, porém, que esta necessidade seja sinónimo de preocupação.
“Isto não tem nenhum tom de preocupação do sentido de um risco. Tem de um desafio, porque é sempre um desafio para qualquer economia crescer e nós devemos voltar a esse estado de preparação e de análise, e não estamos acostumados a que a economia portuguesa cresça 5%, ou próximo disso, como irá acontecer quer em 2021 quer em 2022″, sustentou.
Para o governador do Banco de Portugal, a desaceleração virá por “dois motivos”, um dos quais a retoma de “níveis de atividade idênticos aos dos períodos pré-crise”.
“Depois, porque para fazer crescer uma economia temos necessidade dessa reafetação de recursos entre setores. É assim que as economias crescem. Portanto, nós temos de estar preparados para a necessidade de observar essa reafetação”, disse, elencando, assim, o segundo motivo.
O governador disse também que o fim dos apoios à manutenção do emprego, que considerou terem sido aplicados “da forma correta”, e a entrada em cena das transições digital e climática também “vai acelerar este processo de reafetação de recursos”.
“Quer o ‘lay-off’ simplificado, quer o apoio à retoma progressiva tinham como condição de acesso por parte das empresas a não redução dos níveis de emprego e, nalguns casos, inclusive, a manutenção de todos os postos de trabalho como eles existiam”, começou por lembrar.
No futuro, “a eliminação destas restrições vai, naturalmente, levar a esse reajustamento, e não é algo que seja possível de controlar, de coordenar, de forma organizada”.
Para Mário Centeno, “são os mercados que se vão ajustar a estes incentivos e a estes impulsos vindos da transição climática e da digitalização, também”.
“Estamos de volta aos debates sobre o crescimento estrutural da economia portuguesa, e esse debate já não é um debate que deva ser tido no contexto da crise sanitária. É um debate mais longo e mais, se calhar, para a próxima fase, crucial”, concluiu.
ZAP // Lusa
Entre o que Centeno falou e que de facto disse está um abismo está o abismo insanável do que de facto deveria ter dito. Os juros mais baixos da dívida devem-se ao facto de ele, como MF, ter trocado dívida de curto prazo por dívida de longo prazo, mesmo sem amortizar capital. Enfim empurrar com a barriga para a frente. A despesa do Estado não pode ser mais pequena do que já é. De estradas a hospitais, tudo está a rebentar pelas costuras. O dinheiro que andou a dar a amigos justificado como “manutenção” do emprego, foi controlado “só para amigos” mas não pode ser prática corrente. Já não há mais.