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No último lugar da Premier League e só com derrotas – o que se passa com o Arsenal?

Tim Keeton / EPA

Mikel Arteta, treinador do Arsenal

O Arsenal vai para a pausa internacional em último lugar da liga, só com derrotas e com o pior arranque de temporada em 67 anos. Multiplicam-se os memes e críticas online e o lugar de Arteta está em risco.

Três jogos, três derrotas, nove golos sofridos e nenhum marcado. Foi assim que começou a temporada do Arsenal na liga inglesa, um contraste forte com os resultados a que o clube se habituou no tempo de jogadores como Thierry Henry ou Dennis Bergkamp.

É a primeira vez nos 134 anos de história dos Gunners que o clube perdeu os três primeiros jogos e não marcou nenhum golo. O início da temporada já se previa difícil, com encontros com os dois últimos finalistas da Champions – Chelsea e Manchester City – mas o resultado mais chocante foi a derrota frente ao recém-promovido Brentford.

A derrota contra o Brentford chegou até a motivar críticas do Presidente do Ruanda. O país patrocina a equipa e Paul Kagame escreveu no Twitter que não se pode contentar com a “mediocridade” e que os adeptos não merecem ter se habituar a ficar no fundo da tabela.

Até agora, o Arsenal foi ao Brentford Community Stadium perder por 2-0, sendo que este clube já não jogava na primeira divisão do futebol inglês desde 1947. Seguiu-se uma derrota em casa contra o Chelsea também por dois golos e uma pesada goleada de 5-0 contra o citizens.

As estatísticas de jogo contra o City mostraram a desorganização da equipa – o Arsenal teve apenas 19% de posse bola e zero remates à baliza, contra 25 remates do clube de Manchester, sendo 10 destes apontados à baliza.

Com estes resultados, o clube vai agora para a pausa para as selecções no último lugar da Premier League, depois de ter terminado a temporada passada em oitavo lugar e ter falhado a qualificação para as competições europeias.

A goleada contra o City levou também a uma reunião  entre os jogadores, segundo adiantou o capitão Pierre-Emerick Aubameyang ao Telegraph. “Temos de falar entre nós, jogadores. É importante porque somos o Arsenal. Precisamos de orgulho e precisamos de dizer a verdade, ser honestos e subir o nível”, disse Aubameyang.

“Sempre disse que vou ser a assumir as responsabilidades. Acho que tenho sido mais crítico a mim mesmo e a assumir as culpas todas as vezes, mas só quando somos derrotados”, afirmou Mikel Arteta, técnico do clube, depois do jogo contra o City.

O treinador diz que “tem de se falar do resultado, do que aconteceu em campo”. “Estou aqui hoje e faço exactamente a mesma coisa. Questiono-me e tenho de tentar ter as pessoas certas à minha volta que olham para todas as decisões que tomamos”, referiu.

Esta não é a primeira crise de resultados para Mikel Arteta, que orienta o Arsenal desde 2019. Depois de ter dado aos Gunners a Taça de Inglaterra em 2020, o clube chegou a estar no 15º quinto lugar da Premier League na temporada passada.

Na altura, Arteta dirigiu palavras duras ao plantel. “Gosto de olhar à minha volta e ver lutadores. Normalmente, quando estas coisas acontecem, tens dois tipos de pessoas: lutadores e vítimas. Só precisas dos lutadores, não queres vítimas“, criticou.

Perante as críticas dos adeptos, Arteta disse que enlouqueceria se lesse todos os comentários. “O ambiente no clube é tão bom quanto possível quando estamos a sofrer. A união está cá. Mas há 100% de união à volta do clube? É impossível em qualquer clube, mesmo quando ganhas”, admitiu na altura.

Apesar dos maus resultados, o técnico mostrou-se confiante em relação ao apoio da direcção do Arsenal: “Dentro do clube, sinto apoio, encorajamento e total confiança de que vamos ultrapassar isto tudo juntos”.

Mas esse apoio pode não se manter durante muito mais tempo. Nos últimos tempos, a imprensa desportiva apontava Antonio Conte como o possível substituto do espanhol à frente do Arsenal, depois do treinador italiano ter saído do Inter de Milão devido a conflitos com a direcção sobre a falta de investimentos no plantel.

No entanto, Conte não parece interessado em comandar os Gunners e já aceitou ser comentador numa estação italiana, isto depois de Kevin Campbell ter questionado se o italiano estava disposto a arriscar sujar a sua reputação ao ir para o Arsenal depois do último jogo contra o City.

“Se o Mikel Arteta for despedido, que treinador conhecido é que vai arriscar a sua reputação e não ter financiamento para mudar o que se está a passar? Se eu fosse o Antonio Conte e estou a ver o que se passou ontem, não queria chegar lá perto porque são as coisas básicas que estão a falhar“, afirmou o ex-jogador do Arsenal, que criticou a falta de apoio da liderança aos treinadores que passaram pelo clube nos últimos anos.

Tal como referiu Campbell, há também receios que o clube fique “refém” de Arteta, depois de ter gasto mais de 150 milhões de euros na última janela de transferências e não ter fundos disponíveis para poder mudar o plantel a meio da temporada, caso acabe por contratar outro treinador.

A crise no Arsenal tem motivado críticas na imprensa desportiva inglesa e entre os adeptos. “Gastam esse dinheiro todo em talentos jovens, mas não há líderes na equipa que digam que vão levar a equipa para a frente. Não têm nada, são uma equipa de nada e é quase triste ver quão maus eles são”, afirmou Jamie O’Hara, ex-jogador dos rivais do Tottenham, mas que jogou na academia do Arsenal, na TalkSport.

“A dura realidade para o Arsenal é que toda a gente já esperava isto. Não há nada de surpreendente na mediocridade deles. Os dias em que este clube famoso podia dizer-se igual ao Chelsea já se foram há muito e a preocupação para Mikel Arteta é que o ambiente nas bancadas se torne ainda mais tóxico se a derrapagem até à irrelevância não parar”, escreveu o jornalista Jacob Steinberg no The Guardian, depois do jogo contra o Chelsea.

Os fãs dos Gunners chegaram também a confrontar o treinador à saída do estádio depois da derrota em casa contra o Chelsea e a hashtag #ArtetaOut estava nas tendências nas redes sociais durante o jogo.

Há também adeptos que apelam ao regresso de Arsene Wenger, que esteve 22 anos à frente do Arsenal. Antes de sair em 2018, Wenger foi também alvo de protestos, com os adeptos na altura a dizer que “o quarto lugar não é um troféu”, mas perante o panorama actual, parece que os fãs eram felizes e não sabiam.

No entanto, há Gunners que já parecem conformados com o estado do clube e que preferem divertir-se com a situação, partilhando memes feitos por adeptos rivais, especialmente dos também londrinos Tottenham e Chelsea. Durante o jogo contra o City, a claque do Arsenal chegou até a celebrar e a aplaudir o quarto golo dos rivais.

Adriana Peixoto, ZAP //

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