Na ausência dos seres humanos, os javalis juntaram-se a uma população de porcos e, juntos, apoderaram-se das terras radioativas de Fukushima.
O desastre nuclear de Fukushima é uma tragédia incomensurável, mas o abandono humano tem sido favorável para grande parte da vida selvagem da região.
Cientistas da Universidade de Fukushima e da Universidade de Yamagata, no Japão, estudaram recentemente a genética dos javalis que estão a prosperar neste deserto pós-desastre, longe dos carros barulhentos e sem a ameaça dos caçadores.
O Governo japonês estima que, de 2014 a 2018, a população de javalis tenha aumentado de 49 mil para 62 mil javalis. Para 2020-2021, “esperamos que os números sejam ainda maiores”, disse Donovan Anderson, principal autor do estudo, ao IFL Science.
Os dados genéticos revelaram que, em Fukushima, é comum os javalis (Sus scrofa leucomystax) se reproduzirem com porcos domésticos (Sus scrofa domesticus) que fugiram das quintas após o desastre. É assim que nascem os javalis híbridos que inundam a região.
O legado do porco doméstico foi gradualmente “diluído” ao longo do tempo e, à semelhança de outros estudos, as descobertas indicam que a radiação do desastre nuclear parece não ter tido nenhum impacto prejudicial na genética dos javalis.
Houve, no entanto, uma mudança no comportamento. Estes animais são predominantemente noturnos, mas, após o acidente nuclear, os javalis de Fukushima adotaram um comportamento mais diurno.
Além disso, adaptaram-se às paisagens humanas abandonadas e perderam o medo dos carros e das pessoas. “Parecem não temer a aproximação de carros e às vezes de pessoas, e é por isso que podemos tirar fotografias com tanta facilidade”, afirmou Anderson.
O artigo científico com as descobertas foi publicado na passada quarta-feira na Proceedings B.