O acordo secreto para a compra da Sputnik V fez o Governo de Igor Matovic cair. Agora, e um mês depois de terem chegado ao país, as primeiras 200 mil doses da vacina continuam num armazém e sem autorização de administração.
A crise política na Eslováquia eclodiu há três semanas, quando foi revelada a existência de um acordo secreto entre Bratislava e Moscovo para a compra de 2 milhões de doses da vacina russa Sputnik V.
A crise levou à demissão de seis ministros, à saída do primeiro-ministro, Igor Matovic, e a uma remodelação do Governo de coligação composto por quatro partidos populistas de direita.
Agora, avança o Público, surgiu um verdadeiro mistério: a imprensa eslovaca reportou que testes feitos às vacinas recebidas em Bratislava concluíram que estas têm uma composição diferente da dos estudos clínicos revistos pela The Lancet.
O instituto eslovaco de controlo farmacológico alegou que, com base na informação disponível, não tem condições de retirar conclusões definitivas quanto à eficácia e segurança da vacina russa.
“No dia 30 de março, esta agência enviou um relatório oficial ao ministério da Saúde, informando não poder chegar a uma conclusão sobre os benefícios e riscos da vacina Sputnik V (…), por causa da quantidade de dados que não foram submetidos pelo produtor, de inconsistências nos formulários das doses e da impossibilidade de uma análise comparativa dos lotes usados em vários estudos e países”, confirmou a agência reguladora.
As notícias apontavam para a deteção de uma “fórmula” diferente daquela que foi oficialmente registada para a realização dos ensaios clínicos da Sputnik V, mas o instituto farmacológico não se pronunciou especificamente sobre este assunto.
O regulador europeu já iniciou uma “análise contínua” da Sputnik V para determinar se cumpre os requisitos da UE em matéria de eficácia, segurança e qualidade.
O Ministério da Saúde do país vai aguardar a conclusão do processo de avaliação do regulador nacional antes de avançar com a administração das primeiras doses da vacina russa.
As autoridades russas ainda não reagiram, mas, na conta oficial da Sputnik V no Twitter, consta um desmentido de que as doses enviadas para o país sejam diferentes.
As notícias “baseadas em fontes anónimas” de que as doses da vacina enviadas para a Eslováquia são diferentes da Sputnik V dos testes clínicos “são falsas“, lê-se na publicação.
Nada de surpreendente, quando estamos a falar de um pais como a Rússia, com o historial conhecido de censura e falta de transparência.