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“É como pedir a drogado que deixe a droga”. Fim de moratórias nesta semana é “ensaio” para um tsunami

Há moratórias de crédito que terminam já nesta semana e que podem antecipar uma crise semelhante à de 2008, mais lá para o fim do ano. Especialistas do sector alertam que as empresas e as famílias “estão viciadas” nas moratórias, mas que “mais tarde ou mais cedo, vão ter de pagar”.

Com o fim de Março, chegam também ao fim algumas das moratórias que foram implementadas para fazer face à crise de covid-19.

Mas, para já, está em causa apenas cerca de 25% do total de famílias com moratórias, o que implica valores de cerca de 3,7 mil milhões de euros, segundo o economista Nuno Rico, da associação de defesa dos consumidores DECO, revelados à Rádio Renascença.

De acordo com dados do Banco de Portugal, há 470 mil devedores com moratórias, entre particulares e empresas, com quase 46 mil milhões de euros em dívida.

Em Setembro, vão terminar todas as moratórias e há quem vaticine que o fim de algumas delas, neste mês de Março, pode ser “o balão de ensaio do tsunami” que pode acontecer nessa altura, conforme apontam especialistas na Renascença.

Em Junho, terminam as moratórias do crédito pessoal e espera-se que isso venha a ter um duro impacto nas finanças das famílias.

“Nesta primeira moratória privada [de Abril] não estamos ainda à espera de uma grande percentagem de incumprimento, é esse o feedback que temos dos bancos”, analisa Nuno Rico.

“Mas à medida que acabem as restantes moratórias, nomeadamente de crédito ao consumo que termina daqui a três meses, e a moratória pública que vai até Setembro, aí sim vai haver um crescimento de dificuldades“, constata.

“É expectável que haja uma taxa de incumprimento de 10% e a renegociação de 20% destes contratos”, diz ainda o economista.

Famílias e empresas “estão viciadas” nas moratórias

“Acho que é incrível que acabem moratórias em pleno confinamento. Isto é como pedir a um drogado que deixe a droga de um dia para outro“, aponta na Renascença o presidente da APEMIP – Associação dos Profissionais e Empresas de Mediação Imobiliária de Portugal, Luís Lima.

Este responsável entende que empresas e famílias “estão viciadas, habituaram-se às moratórias, mas é uma responsabilidade que, mais tarde ou mais cedo, vão ter de pagar”, alerta.

Luís Lima assume o receio de que venha a acontecer uma bolha imobiliária como a que rebentou em 2008 nos EUA. “O meu medo é esse e espero estar errado”, aponta na Renascença.

Nuno Rico lembra, como agravantes, o “contexto económico algo especifico” e os “cortes muito significativos nos rendimentos de muitas famílias” em tempos de pandemia.

Contudo, o economista da Deco destaca como boa notícia a postura diferente dos Bancos que revelam “maior disposição para negociar e tentar evitar o incumprimento” dos consumidores.

De qualquer modo, já “há grandes fundos internacionais, os fundos abutre, que estão há espera dos NPL [créditos bancários em incumprimento] a ver se conseguem comprar”, atira Luís Lima, antecipando um cenário em que muitas pessoas podem vir a perder as suas casas.

ZAP //

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