A reúne um grupo de pessoas estranhas, dentro de uma caverna escura durante 40 dias. Os voluntários não poderão ter acesso a telemóveis, relógios ou até mesmo luz solar durante o período. O objetivo é descobrir mais sobre psicologia humana.
O líder da missão, Christian Clot, que também é um dos participantes, revela que se inspirou a criar a experiência depois de ver como a pandemia de covid-19 levou pessoas de todo o mundo a terem se isolar. A ideia é observar os efeitos do isolamento a longo prazo.
Para além de Clot, a experiência única conta com mais 14 voluntários, que não são remunerados pela sua participação, têm entre 27 e 50 anos e incluem um biólogo, um joalheiro e um professor de matemática.
Isolada na caverna Lombrives em Ariège, em França, a equipa começou o desafio tendo na sua posse quatro toneladas de suprimentos para conseguir sobreviver. Aos bens a que podem recorrer juntam-se a água da caverna e um dínamo acionado por pedal para terem acesso a eletricidade, uma vez que não terão nenhuma fonte de luz, acesso a telemóveis, relógios ou qualquer outra forma que lhes indique o dia exato.
A experiência Deep Time iniciou-se às 20h00 (horário local), no passado domingo, dia 14 de março – e, se tudo correr bem, será concluída a 22 de abril.
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Deste projeto podem ser retiradas conclusões relevantes para futuras missões espaciais, tripulações de submarinos, equipas de mineração e outros cenários onde as pessoas são obrigadas a permanecer fechadas por longos períodos, refere o IFL Science.
No entanto, o líder da missão tem sido alvo de algumas críticas na imprensa francesa por assumir o título de investigador sem ter qualquer formação científica.
A experiência segue os passos do geólogo francês Michel Siffre, que passou muito tempo a viver no subsolo, incluindo um período de seis meses em 1972. Com as suas experiências, Siffre descobriu que o ciclo circadiano do corpo humano pode variar em duração quando este está livre dos estímulos da luz natural.
Depois da missão, o objetivo é que os participantes consigam ter uma melhor perceção do tempo, de quais são são as conexões entre o tempo cognitivo e biológico ou qual a relação entre o cérebro e as células genéticas.
Para ajudar os voluntários nestas conclusões, os líderes do projeto revelaram que todos eles serão monitorizados por uma equipa de doze cientistas que se irá manter do lado de fora da caverna, usando dados recolhidos por vários sensores.
Arnaud Burel, um dos participantes, disse à Oddity Central que concordou em participar na experiência para saborear a “vida atemporal” que é impossível viver no dia dia, devido à presença de computadores ou telemóveis que “nos lembram constantemente das nossas obrigações”.
No entanto, o biólogo referiu que não será fácil viver quase seis semanas confinado numa caverna com 14 estranhos e defende que a comunicação entre todos será a chave para garantir que a convivência corra bem.
Esta é a maior caverna da Europa, em termos de volume, e dentro dela o grupo terá de se adaptar à temperatura constante de 12 ° C e 95% de humidade.
Clot detalha ao Le Parisian que dentro da caverna existem “três espaços separados que foram devidamente equipados – um para dormir, um para coabitar e outro para fazer estudos sobre a topografia do lugar”.
“Esta experiência é inédita no mundo”, disse Etienne Koechlin, neuro-cientista da École Normale Supérieure, em Paris, ao 7sur7. “Até agora, todas as missões deste tipo centraram-se no estudo dos ritmos fisiológicos do corpo, mas nunca no impacto deste tipo de rutura temporal nas funções cognitivas e emocionais do ser humano”, acrescentou.
A experiência foi financiada por um total de € 1,2 milhões provenientes de fontes de financiamento públicas e privadas.