O ministro das Infraestruturas garantiu, esta quinta-feira, que “o Governo não tem qualquer intenção de nacionalizar a Groundforce”, dizendo acreditar que “o acionista privado vai compreender” que tem de dar garantias à TAP para receber os adiantamentos pedidos.
Em comunicado, divulgado na tarde desta quinta-feira, o presidente da Groundforce, Alfredo Casimiro, considerou que a resposta que recebeu do Governo à sua proposta para viabilizar a empresa é “insultuosa, uma chantagem e um ultimato inaceitável“.
O administrador disse que ofereceu a sua posição acionista como garantia de que a empresa vai pagar à TAP os adiantamentos necessários para pagar os salários em falta e que o ministro das Infraestruturas lhe propôs a perda das ações (50,1% do capital) na Groundforce “se o Estado se atrasar na concessão do aval”, para um financiamento bancário.
“O senhor ministro sabe que a proposta que fez não pode ser aceite numa negociação de boa-fé. Ao contrário do que nos prometeu em julho, o senhor ministro não nos apoiou e é agora o único responsável pela falta de pagamento dos salários dos trabalhadores”.
Perante estas declarações, Pedro Nuno Santos convocou uma conferência de imprensa, em que afirmou que a TAP tem feito “um grande esforço para apoiar a Groundforce”, mas chegou um momento em que “não pode continuar a fazer adiantamentos sem ter garantias”.
O ministro das Infraestruturas garantiu que “o Governo não tem qualquer intenção de nacionalizar a Groundforce”, dizendo acreditar que o “acionista privado vai compreender” que tem de dar garantias à TAP para receber os adiantamentos pedidos.
Questionado sobre as declarações de Alfredo Casimiro, o governante desvalorizou o “tom da carta”, dizendo entender tendo em conta “a situação de desespero em que está”.
“Tenho de dar um desconto à carta que foi tornada pública e faço esse desconto, porque entendo a situação de desespero em que está o acionista privado da Groundforce. O tom da carta não é relevante, o que é relevante é que tenho de fazer bem o meu trabalho – defender a TAP e o dinheiro dos portugueses”, declarou.
Pedro Nuno Santos disse acreditar que ainda seja possível chegar a uma “solução”, que passa por o “acionista privado compreender que a TAP tem direito a proteger-se“, antes de fazer novos adiantamentos de capital à empresa de que é acionista (49,9%), que já totalizam 12,3 milhões de euros.
A TAP propôs efetuar um novo adiantamento de 2,05 milhões de euros para o pagamento dos salários de fevereiro, exigindo em troca uma penhora da participação da Pasogal, empresa de Alfredo Casimiro, até ao pagamento da dívida – até a Groundforce receber o financiamento bancário.
“Aquilo que não conseguimos entender é, se de facto é intenção do acionista privado pagar à TAP [a dívida], qual é o problema de assumir” [essa penhora da sua participação]. Ainda nos assusta mais“, acrescentou o ministro.
Na mesma conferência de imprensa, Pedro Nuno Santos explicou que o acionista privado aceitou o penhor das ações relativas à sua participação para receber o adiantamento de cerca de dois milhões, mas exigiu, em caso de execução, manter o controlo da Groundforce.
“O acionista privado aceita transferir as ações, mas não que se tirem as consequências desta ação, isto é, perante o não pagamento à TAP e a execução da garantia, a TAP passaria a ser maioritária, mas o controlo manter-se-ia do acionista privado, que entretanto já era minoritário. Isto é inaceitável: aumentava a exposição, mas não garantia a proteção da TAP”, declarou o governante.
Na prática, explicou, “as ações [da Pasogal] passavam para a TAP, mas não significavam nada. Não tinham valor do ponto de vista do controlo da empresa. A TAP não pode aceitar uma situação destas”, atirou.
“Se a partir do momento que entra o financiamento e se for usado para pagar a dívida à TAP obviamente que não se colocaria nenhum risco de controlo da Groundforce pela TAP”, sublinhou.
Empréstimo à Groundforce será dado por banco privado
Pedro Nuno Santos declarou ainda que “está a ser preparada pelo Ministério da Economia e das Finanças uma operação que envolve um empréstimo de um banco privado, com uma garantia pública” e que, em princípio, este “chega durante o mês de março“.
No comunicado enviado na quinta-feira, o acionista privado da Groundforce adiantou estar “já negociado” o empréstimo bancário com aval do Estado, “de 30 milhões de euros das anunciadas linhas Covid”.
O ministro sublinhou que “é preciso que se entenda que as exigências que a TAP está a fazer são as mesmas que o Estado português exigirá pelo empréstimo bancário”.
“Aquilo que está a ser recusado hoje acabará por ter de ser recusado na altura do empréstimo bancário, porque as exigências são as mesmas“, acrescentou.
Pedro Nuno Santos disse ainda que a Groundforce “tem dinheiro em caixa que lhe permitiria pagar metade dos salários dos trabalhadores”.
“Sabemos que há cerca de 1,4 milhões de euros em caixa. Posso estar errado no valor, mas sabemos que há dinheiro em caixa desta dimensão”, referiu.
“Disponibilidade total para ir a aumento de capital”
Em declarações ao jornal ECO, esta sexta-feira, Alfredo Casimiro disse estar disponível para reforçar o capital da empresa para fazer face às dificuldades financeiras.
“Quando as empresas não têm capital ou o perdem por alguma razão têm de haver reforços de capital. A minha disponibilidade é total para ir a um aumento de capital.”
O presidente do conselho de administração lembrou que a Groundforce estava de boa saúde antes da pandemia. Mas em 2020 a faturação caiu para 63 milhões de euros, menos 58% do que os 153 milhões registados em 2019. De lucros de nove milhões, os resultados da empresa passaram para prejuízos de 25 milhões de euros no ano passado. “Estamos com 10% do número de voos, é incomportável”, afirmou.
O jornal digital questionou então o empresário do porquê de não usar o dinheiro que pode ser usado para reforçar o capital para pagar os salários em atraso.
“Tenho um contrato com a TAP válido até dezembro de 2022 e não me compete a mim, enquanto acionista individual, fazer reforços de capital. Não tenho qualquer garantia. Nenhum empresário poria dinheiro seu sem garantias de renovação de um contrato por, pelo menos, cinco anos”, respondeu.
Enquanto o plano de reestruturação não é aprovado pela Comissão Europeia, Casimiro lembrou que a Groundforce já está a ajustar o negócio para fazer face à crise provocada pela pandemia.
“Criámos poupanças e reduzimos custos no valor de 60 milhões de euros. Aliviámos o quadro de funcionários em cerca de mil pessoas, recebemos cerca de 18 milhões de euros de apoios pelo lay-off, renegociámos contratos com uma série de fornecedores, rescindimos com alguns espaços”, enumerou o gestor, não dando garantias de que não irão sair mais pessoas.
No entanto, Casimiro está a tentar ser otimista. “Acreditamos que, em junho ou julho, as coisas comecem a melhorar. (…) O mundo vai voltar. A Groundforce era uma empresa de sucesso até vir a pandemia e acredito que vai voltar a ser.”
ZAP // Lusa