Os gémeos idênticos formam-se a partir do mesmo óvulo e obtêm o mesmo material genético dos seus pais. Mas isso não significa que sejam geneticamente idênticos no momento do nascimento.
De acordo com o site Live Science, isto acontece porque os chamados gémeos idênticos adquirem mutações genéticas no útero, à medida que as suas células tecem novos filamentos de ADN e se dividem em mais e mais células.
Um novo estudo, publicado a 7 de janeiro na revista científica Nature Genetics, mostra que, em média, pares de gémeos têm genomas que diferem em cerca de 5,2 mutações que ocorrem no início do desenvolvimento.
Os investigadores estimam que, em cerca de 15% dos pares de gémeos idênticos, um dos bebés carrega um número “substancial” de mutações que o outro não compartilha.
“Pode chegar até 10 a 15 mutações”, disse o autor principal, Kari Stefansson, CEO da deCODE genética, uma empresa que estuda o genoma humano.
A equipa analisou 387 pares de gémeos idênticos e dois pares de trigémeos (também monozigóticos, ou seja, que se separaram do mesmo óvulo), bem como os seus pais, cônjuges e filhos.
Ao sequenciar genomas inteiros de todos estes membros da família, os cientistas puderam rastrear quais mutações apareceram em quais gémeos e quais dessas mutações foram então transmitidas aos seus filhos.
Se uma mutação é transmitida por várias gerações, isso indica que é do tipo germinativa – aquela que aparece nos óvulos, espermatozoides e nos seus precursores. Se essa mesma mutação também aparece nas células somáticas (não reprodutivas) dos pais, é provável que essa mutação tenha aparecido durante o seu desenvolvimento inicial, observam os autores da pesquisa.
Além de rastrear mutações entre gerações, os cientistas procuraram mutações que foram compartilhadas dentro de um conjunto de gémeos, mas que não se apresentavam uniformemente em todas as células. Este fenómeno, conhecido como mosaicismo, indica que a mutação ocorreu depois da fertilização do óvulo, mas antes que este se dividisse.
Usando os dois métodos, a equipa foi capaz de identificar quais mutações surgiram nessa janela estreita de desenvolvimento inicial e com que frequência um dos gémeos tinha uma mutação que o outro não tinha. Em suma, os investigadores descobriram que não se pode assumir que gémeos idênticos partilham também de ADN idêntico.
Em declarações ao mesmo site, Ziyue Gao, professora assistente de Genética na Universidade da Pensilvânia, que não esteve envolvida no estudo, quis destacar, no entanto, que “estas diferenças genómicas em gémeos idênticos ainda são muito raras” e que não é ainda claro se resultam numa mudança funcional que altera o funcionamento das células.