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De Belém para o Mogadouro à boleia de The Crown. Tino de Rans e Ana Gomes só desalinham na geringonça

Pedro Pina / RTP / Lusa

Candidatos às Eleições Presidenciais, Vitorino Silva (D) e Ana Gomes (E)

Esta quarta-feira, imperou a tranquilidade nos estúdios da RTP3. Os candidatos presidenciais Vitorino Silva e Ana Gomes sentaram-se frente-a-frente para recordar o tanto que os une e esquecer o (muito) pouco que os separa.

Uma candidata da esquerda do PS e um candidato da esquerda, mas às direitas. Dois dos protagonistas da noite desta quarta-feira foram Ana Gomes e Vitorino Silva, que se sentaram frente-a-frente nos estúdios da RTP3 para mostrar que aquilo que os une é muito mais do que o que os separa.

O debate amigável arrancou com a declaração do Estado de Emergência. A diplomata disse não ter nada contra as medidas e apelou à população para que, tal como ela, também as respeitem. No entanto, e à semelhança do que tem defendido, trouxe para a discussão a Lei de Emergência Sanitária.

“Critico o Estado de Emergência porque não se pode banalizar o arco legal para essas mesmas medidas”, atirou a candidata a Belém. “Já houve mais do que tempo para ser feita uma Lei de Emergência Sanitária. Aliás, ainda há pouco ouvi o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa dizer que está em preparação por parte da provedora e que não se devia fazer a quente. Mas já lá vão oito meses.”

Neste contexto, Vitorino Silva abordou o tema da realização de umas eleições presidenciais num contexto anormal como o da atual pandemia de covid-19.

“O calceteiro sabe que em agosto trabalha a 35ºC e no inverno, a -2ºC. E sabe que faz muito mais frio em janeiro e agosto. Claro que os políticos, que andam sempre de vidros fumados, fechados dentro dos gabinetes, não sabem a temperatura em janeiro e agosto. E um calceteiro disse: a pior coisa que podem fazer é marcar as eleições para janeiro”, disse, vincando que, na sua opinião, as eleições deviam ter sido adiadas.

Ana Gomes referiu que não foram criadas todas as condições necessárias para facilitar a ida às urnas nestas condições excecionais e que a questão do adiamento deveria ter sido colocada antes.

“Teria gostado de medidas mais a fundo, tomadas pela Assembleia da República, para facilitar o voto por correspondência“, disse. O candidato do RIR concordou, acenou e sublinhou: “Os emigrantes são mais portugueses do que nós”.

Ana Gomes acredita mais no Tino do que na TINA

Depois de ouvir Tino de Rans confessar que conseguiu as 7.500 assinaturas “pela força da voz”, Ana Gomes, saudosa, fez um desabafo em honra aos velhos tempos. “Eu tenho pena que o Vitorino tenha saído do PS. O Vitorino é um lutador pela democracia.”

Como se lhe tivessem tocado no ponto fraco, o candidato admitiu que tudo seria diferente se António Guterres voltasse. “Sou do PS do Guterres, vou lutar pelo voto do Guterres. Tenho muito orgulho. Mas gosto muito da minha liberdade e, às vezes, nos partidos não dá.”

Depois das juras de amor, a geringonça chegou à mesa do estúdio da RTP para desalinhar os candidatos. Vitorino Silva criticou António Costa pela solução encontrada depois das eleições legislativas de 2015 e acrescentou que, na altura, previu que o mesmo fosse acontecer mais tarde à direita, referindo-se aos resultados das regionais dos Açores.

“É tudo farelo do mesmo saco”, atirou.

Ana Gomes, pelo contrário, disse que apoiou a solução política “desde o primeiro momento” e que a geringonça provou que havia alternativa às políticas de austeridade.

“Estávamos no tempo da ditadura da TINA (There Is No Alternative) e eu acredito mais no Tino. Na TINA não acredito”, argumentou, numa referência ao Governo de Pedro Passos Coelho.

Ana Gomes aproveitou o balanço para defender uma boa utilização dos fundos europeus para tirar o país “da cepa torta”. “O desafio é reorganizar para aplicar devidamente os fundos”, sustentou, defendendo uma boa gestão de proximidade, através da descentralização de competências e responsabilidades, que “prepare a regionalização”.

Vitorino Silva não discordou. Se fosse Presidente da República, “mudava o Palácio de Belém para Mogadouro”.

The Crown e o empurrão para a Presidência

Nos últimos minutos de debate, Vitorino Silva disse que, “se fosse comentador e tivesse um quarto do seu palco [de Ana Gomes], a minha grande causa seria a violência doméstica, porque o respeito começa em casa”.

Ana Gomes aproveitou a boleia e, mais uma vez, concordou: “O combate à violência doméstica, machista e patriarcal, e a paridade, seria uma das minhas bandeiras enquanto Presidente”, sobretudo por ser uma Presidente do sexo feminino. “As mulheres são a maioria.”

Questionada sobre a polémica da vacina da gripe, a candidata apoiada pelo PAN e pelo Livre sublinhou que não fez nada de ilegal. “Não tirei a vacina a ninguém, pelo contrário. Fui eu que tomei a iniciativa para denunciar que não havia vacinas, com jovens a tomar e idosos sem vacina.”

A última pergunta do debate foi direcionada a Vitorino Silva. O moderador Carlos Daniel perguntou quem era a pessoa mais conhecida a apoiar a sua candidatura e Tino de Rans, sem rodeios, respondeu: “Eu sou assessorado pelo povo.”

Por fim, e embalado pelo mote, o candidato perguntou a Ana Gomes se tinha visto “a série inglesa A Coroa“. A candidata respondeu que não, e Tino elucidou-a.

“A rainha de Inglaterra está há 70 anos no poder, não tem o nono ano, não tem o sexto, foi mecânica na II Guerra Mundial”, contou. Logo depois concluiu, estabelecendo um paralelo entre a sua candidatura e a Rainha: não seria impossível “haver em Portugal um Presidente da República calceteiro”.

Para a noite desta quinta-feira, estão agendados debates entre Marisa Matias e André Ventura (na SIC, às 21h); Ana Gomes e Tiago Mayan (na TVI24, às 22h); e Vitorino Silva e Marcelo Rebelo de Sousa (na RTP3, às 22h45).

Liliana Malainho, ZAP //

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