O governador do Banco de Portugal (BdP), Mário Centeno, alertou esta terça-feira para os riscos de retirar de forma “precoce” as medidas de apoio ao emprego e ao crédito, bem como osperigos de os prolongar ou concedê-los a empresas “inviáveis”.
No discurso de abertura de uma conferência organizada pelo Jornal de Negócios, o governador do Banco de Portugal, Mário Centeno, recordou, esta terça-feira, a recuperação mais rápida do que o previsto que se registou nos meses do desconfinamento, um sinal que dá “alento” de que, uma vez controlada a situação sanitária, as economias terão capacidade de recuperar.
“A resposta em V — que eu chamaria quase perfeito — que a economia deu à redução parcial do confinamento deve ser lida como um alento a adaptarmos as medidas nesta fase, deixar a economia funcionar sem perder de vista a nossa segurança”, disse Centeno.
Porém, os apoios ao emprego e ao crédito deixam as autoridades num dilema. “Por um lado, uma retirada precoce das medidas de apoio ao emprego e ao crédito terá um efeito desestabilizador nas condições de oferta e no ritmo de recuperação económica. Empresas com alta alavancagem, mesmo se viáveis, enfrentariam problemas de racionamento de crédito”, disse Centeno.
“Por outro lado, uma extensão das medidas de apoio daria lugar a uma indesejável manutenção do emprego e da afetação de crédito a empresas inviáveis, o que pesará nas perspetivas de crescimento futuras, sempre dependentes da realocação de recursos escassos”, alertou.
O governador do Banco de Portugal considerou ainda que, apesar do crescimento da pandemia, deve-se evitar novo confinamento e deixar a “economia a funcionar”.
“A resposta à crise sanitária está a ser eficaz sem um confinamento total. O distanciamento social não é sinónimo de confinamento. A utilização de máscara, a realização de testes e a identificação de surtos são substitutos muito eficazes e devemos utilizá-los”, disse Centeno.
Em relação aos bancos, o governador disse que se encontram “com posições de liquidez e capital mais sólidas do que na anterior crise” que permite dizer que “fazem hoje parte da solução, ao contrário de 2008, quando foram parte do problema”. “Devemos estar orgulhosos disso”, sublinhou.
Por outro lado, Centeno disse que o sistema financeiro enfrenta tempos desafiantes.