A Organização Mundial de Saúde (OMS) aprovou, em 2018, um inseticida para combater os mosquitos transmissores da malária que pode, afinal, não ser eficaz.
A arma efetiva contra a malária parecia ser a clotianidina, tradicionalmente usada na agricultura contra pragas, mas um estudo recente acaba de descobrir que alguns mosquitos estão a desenvolver resistência.
De acordo com a Science, uma equipa de cientistas do Centro de Pesquisa de Doenças Infecciosas dos Camarões (CRID) recolheu amostras de mosquitos transmissores da malária em áreas rurais e urbanas ao redor de Yaoundé.
“Num teste de suscetibilidade padrão, a exposição à clotianidina durante 1 hora matou 100% do Anopheles coluzzii. Mas em algumas amostras de A. gambiae, até 55% dos mosquitos sobreviveram”, lê-se no artigo científico. A OMS ainda não reviu o estudo porque ainda carece de revisão por pares.
Corine Ngufor, entomologista da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres, diz que este estudo ser o primeiro relato de resistência evidente à clotianidina em insetos portadores da malária. “Esta nova classe de inseticida pode tornar-se quase inútil para o controlo do vetor da malária em poucos anos.”
A mortalidade por malária foi reduzida para metade nas últimas duas décadas, principalmente graças aos mosquiteiros com inseticidas e fumigação interna. Estes métodos usavam quatro tipos de inseticidas que dependiam muito dos piretróides porque são baratos e não tóxicos para os mamíferos.
Por forma a combater o aumento de mosquitos resistentes a piretróides, a Organização Mundial de Saúde adicionou clotianidina para pulverização interna.
Este recente estudo não surpreendeu a empresa alemã Bayer AG, que faz uma das duas formulações de clotianidina que os programas de malária estão a considerar para fumigação interna. Para impedir – ou pelo menos desacelerar – a resistência, a Bayer adiantou estar a desenvolver novas fórmulas.