“Calor” e “claustrofóbico” foram os primeiros comentários dos elementos de uma banda de death metal britânica, esta quarta-feira, após a experiência de tocar dentro de uma obra de arte do português João Onofre, em Londres, para um festival de escultura.
“Os primeiros dez minutos correram bem e foram divertidos, por isso decidimos tocar mais dois temas, mas arrependemo-nos rapidamente”, confessou o baterista dos Unfathomable Ruination, Doug Anderson, à agência Lusa.
Durou 19 minutos a atuação da banda dentro de um cubo de aço à prova de som e hermeticamente fechado, com 1,83 metros de altura, comprimento e largura – dimensões idênticas a “Die”, a escultura do norte-americano Tony Smith (1912-1980) que influenciou o artista português.
Após instalados no interior de Box sized Die, os quatro elementos (vocalista, guitarrista, baterista e baixista) começaram a tocar enquanto a porta foi fechada, deixando apenas sair para o exterior um som abafado e vibrações nas paredes da caixa.
A duração do concerto depende da quantidade de oxigénio disponível, mas Doug revela: “Ao fim de 10-15 minutos, o ar começa a rarear. Torna-se difícil respirar e transpira-se muito”.
Os músicos, porém, estão satisfeitos pelo desafio lançado pelo artista português, que assistiu à apresentação para a imprensa da sua obra, que faz parte do festival Escultura na City, evento concentrado no centro financeiro de Londres, que arrancará quinta-feira e decorrerá até maio de 2015.
“Gosto do som deles, já os tinha ouvido e visto vídeos”, disse João Onofre à Lusa.
“Extraordinário” ou “inacreditável” foram as reações de alguns transeuntes, hoje, reagindo com admiração ou choque à descrição da performance.
A atuação será repetida 14 vezes, às quartas, quintas e sextas-feiras, às 18:00, entre 03 de julho e 01 de agosto, junto ao icónico edifício londrino, no n.º 30 da St.Mary Axe, apelidado de “Gherkin”, pelo formato parecido ao de um pepino.
“A praça é muito frequentada à tarde e queremos interagir com as pessoas”, justificou a co-directora do evento, Stella Ioannou.
Esta é a primeira vez que a escultura de João Onofre é exposta em Londres, tendo sido apresentada no início deste ano na Fundação de Serralves, no Porto, e passado por cidades como Paris, Barcelona e Basileia, envolvendo sempre bandas de Death Metal locais.
Nascido em 1976, em Lisboa, onde vive e trabalha, João Onofre estudou na Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa e fez um mestrado em artes no Goldsmiths College, em Londres.
Em 2001 recebeu, em ex-aequo com Rui Toscano, o Prémio de Artes Plásticas União Latina 2000. Tem feito exposições individuais em Nova Iorque, Viena, Barcelona, Turim, Paris e Santiago de Compostela, e a sua obra está representada, entre outras instituições, no Museu de Arte Contemporânea de Chicago, no Centro Georges Pompidou, em Paris, na The Weltkunst Foundation, em Zurique, no Museu de Serralves, no Porto, e no Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian.
/Lusa