A central nuclear mais antiga da França será encerrada na terça-feira, após quatro décadas de operação. Esta decisão agrada aos ativistas ambientais, que há muito alertam para os riscos de contaminação, mas preocupa a economia local.
A central nuclear Fessenheim, inaugurada em 1977 e já com três anos de vida a mais do que o projetado há 40 anos, tornou-se alvo de ativistas ambientais após o colapso em Fukushima, no Japão, em 2011, noticiou no domingo a NPR, citando a agência AFP.
Apesar de uma promessa do então Presidente François Hollande em fechar Fessenheim – localizada no rio Reno, perto da fronteira leste da França com a Alemanha e a Suíça -, somente em 2018 o seu sucessor, Emmanuel Macron, deu a luz verde final.
Dirigida pela empresa estatal de energia EDF, um dos dois reatores da Fessenheim foi desligado em fevereiro. O segundo será encerrado terça-feira, mas levará meses para que os reatores arrefeçam o suficiente e o combustível utilizado seja removido. O processo deve ser concluído até 2023, podendo a central ser desmantelada a partir de 2040.
“Esperamos, acima de tudo, ser as últimas vítimas dessa caça às bruxas contra a energia nuclear”, disse Anne Laszlo, representante do sindicato da Fessenheim, antes do encerramento que levará cerca de 150 famílias a saírem da pequena comunidade de 2.500 habitantes neste verão. Mais se seguirão, visto que são precisas apenas 294 pessoas no local para o processo de remoção de combustível e 60 para a desmantelamento.
Até o final de 2017, Fessenheim tinha mais de mil funcionários e prestadores de serviços.
De acordo com a AFP, não há limite legal para a vida útil das centrais nucleares, mas a EDF previa um teto de 40 anos para os reatores de segunda geração. A autoridade de segurança nuclear francesa disse que os reatores somente podem ser operados além de 40 anos caso sejam realizadas melhorias na segurança.
Nos anos de 1990 e de 2000 foram relatadas várias falhas de segurança em Fessenheim, incluindo uma falha elétrica, rachaduras na tampa do reator, um erro de química, poluição da água, vazamento de combustível e contaminação radioativa não letal dos trabalhadores.
Em 2007, no mesmo ano em que um estudo suíço constatou que os riscos sísmicos naquela região haviam sido subestimados durante a construção, a autoridade de segurança nuclear francesa denunciou a “falta de rigor” na operação da usina pela EDF.
A França continuará a ter 56 reatores de água pressurizada em 18 centrais nucleares, gerando cerca de 70% da sua eletricidade. Somente os Estados Unidos, com 98, têm mais reatores, mas a França é de longe o maior consumidor mundial de energia nuclear.
Em janeiro, o governo francês disse que encerrará mais 12 reatores que atingem ou excedem o limite de 40 anos até 2035, quando a energia nuclear deve representar apenas 50% da energia do país, em favor de fontes renováveis.
Ao mesmo tempo, a EDF está a construir o seu primeiro reator da próxima geração, que deverá ficar concluído até 2022, com 10 anos de atraso.
O presidente da câmara local Claude Brender condenou o encerramento da central, que, na sua opinião, ajudou a criar uma “ilha de prosperidade” numa parte pobre da Alsácia. O governo disse que os trabalhadores serão transferidos para outros locais da FED.
O engenheiro Jean-Christophe Rouaud e a esposa, Cecile, diretora da creche local, são dois dos residentes que tiveram que se mudar para outra cidade, onde aquele encontrou trabalho numa outra usina nuclear.
Quando o fim se aproximava, “as pessoas têm medo de não ouvir mais as máquinas a funcionar”, disse Rouaud à AFP, descrevendo um “sentimento de desperdício partilhado por todos os funcionários”. Muitos outros não terão opção a não ser deixar as suas famílias na Alsácia e trabalhar noutros locais.
O proprietário de um restaurante na zona, Laurent Schwein, indicou que se sente preocupado que o futuro dos negócios da cidade.
“Enquanto [proprietários de] restauradores, estamos a entrar no desconhecido. Não sabemos quanto tempo o desmantelamento levará”, disse Schwein, que também é o presidente do clube de futebol local, que agora será encerrado com a saída de muitos dos seus jovens jogadores.
O morador Gabriel Weisser é um dos poucos felizes com a “libertação da cidade da energia nuclear”. “Eles estão a defender as suas vidas profissionais, e eu a minha vida”, afirmou.