Os moradores de um bairro de lata, na capital do Quénia, protestaram contra a polícia por, alegadamente, ter morto a tiro um sem-abrigo, que estaria a violar o recolher obrigatório em vigor no contexto da pandemia de covid-19.
Centenas de pessoas em Mathare, no Quénia, saíram de casa e queimaram pneus nas ruas esta segunda-feira à noite, em protesto contra a alegada brutalidade policial.
Dominic Njagi disse que não conseguia compreender por que razão a polícia matou o seu irmão, James Mureithi, de 51 anos. “O patologista com quem falei disse que o meu irmão levou dois tiros, um nas pernas e o outro no peito“, contou Njagi à Associated Press. “O médico disse que a ferida no peito foi à queima-roupa.”
Dominic Njagi referiu que Mureithi era um engenheiro automóvel, que sofreu um colapso mental depois de se ter divorciado da sua mulher, há 10 anos. Um ancião local, Stephen Wesonga, adiantou que Mureithi era conhecido na favela, pois costumava andar por ali a recolher materiais recicláveis para vender.
O ativista de direitos humanos Boniface Mwangi afirmou que já morreram 19 quenianos na sequência de ações policiais no país no contexto da aplicação da medida de recolher obrigatório por causa do novo coronavírus, e todos eram de bairros sociais.
As mortes dos quenianos e os protestos globais sobre o assassinato de George Floyd nos Estados Unidos mostram que “as lutas contra a brutalidade policial são as mesmas em todo o lado”, sublinhou o ativista, aludindo ao caso do homem de 45 anos morto por um polícia no estado norte-americano do Minesota e que está a gerar uma onda de protesto.
“As pessoas têm mais medo da polícia do que da covid-19“, disse Mwangi.
Segundo a mesma fonte, os ativistas estavam a planear manifestações, mas hesitaram em fazê-las antes, porque receavam detenções que poderiam levar a seis meses de prisão por reunião ilegal – ou 14 dias num abrigo de quarentena.
O Parlamento Europeu aprovou, esta terça-feira, uma declaração da Autoridade Independente de Supervisão Policial, criada pelo Parlamento Europeu, que refere 15 mortes e 31 incidentes, em que pessoas feridas estão diretamente associadas a ações de agentes policiais no contexto da aplicação do recolher obrigatório.
A autoridade disse que enviou equipas para investigar mais seis mortes, alegadamente, ligadas a atos da polícia desde 29 de maio, incluindo a de Mureithi.
ZAP // Lusa