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Jogos à porta fechada. Alteração pode fazer a diferença no resultado final

Com o regresso do futebol, os encontros serão jogados à porta fechada. Quatro gráficos mostram como o resultado final pode ser influenciado pela ausência de adeptos.

Para milhões de adeptos de futebol, repetições de jogos foi a única coisa que houve para assistir nos últimos meses. Mas a partir deste sábado, o futebol europeu de elite recomeça, cortesia da Bundesliga alemã. Em Portugal, o regresso está agendado para 4 de junho. Mas haverá algumas diferenças.

Dado que haverá uma agenda cheia de jogos para terminar antes do final de julho, as equipas podem fazer cinco substituições, em vez das três habituais. Mas a diferença mais óbvia será que essas partidas vão jogar-se sem espetadores. Os jogos serão realizados em estádios vazios.

Estes locais não serão neutros, como foi proposto para o recomeço da Premier League inglesa, mas a investigação mostra que terrenos vazios podem efetivamente significar uma perda da vantagem moral de se jogar em casa.

Alguns estudos mostram que os adeptos caseiros podem influenciar o resultado dos jogos de futebol pela pressão que exercem sobre o árbitro. Há evidências, por exemplo, de que os árbitros concedem mais tempo de compensação quando a equipa da casa está a perder e menos quando a equipa caseira está a vencer, encurtando ou prolongando sistematicamente o jogo para favorecer o conjunto da casa, e isso é influenciado por quantos fãs estão presentes.

Historicamente, a maioria dos encontros jogados à porta fechada foi por imposição aos clubes e adeptos como punição – por violência, abuso racista e corrupção. Estudando a história do futebol europeu desde a Segunda Guerra Mundial, encontram-se 191 jogos à porta fechada nas principais ligas italiana e francesa, e em competições europeias de clubes. A maioria desses jogos aconteceu após 2002.

Carl Singleton

O número de jogos à porta fechada desde 2002.

Os investigadores descobriram que a considerável vantagem caseira no futebol é quase totalmente eliminada em jogos à porta fechada. Historicamente, as equipas da casa ganham 46% das vezes em partidas com adeptos, mas apenas 36% das vezes quando não há público. A equipa visitante vence 26% das vezes com fãs e 34% sem fãs.

Estas diferenças verificam-se principalmente porque a equipa da casa marca menos golos quando não há adeptos. O gráfico abaixo mostra as diferenças médias entre partidas com e sem adeptos desde 2002, com valores negativos a implicar que um resultado ocorreu com menos frequência em partidas à porta fechada e vice-versa para um valor positivo.

Carl Singleton

Os resultados à porta fechada em comparação com os outros jogos normais.

As razões para a diferença

Os dados sugerem pelo menos duas razões para a perda de vantagem caseira. A primeira é que as equipas de fora são punidas de maneira diferente pelo árbitro. Pequenas mudanças no número de adeptos no estádio normalmente têm pequenos efeitos.

Mas, como mostra o gráfico abaixo, estimam-se que uma equipa visitante receba 0,5 menos cartões amarelos ao jogar à porta fechada. As partidas à porta fechada têm um efeito desproporcional e forte nos cartões amarelos.

Carl Singleton

Os efeitos estimados em quantos cartões amarelos são mostrados à equipa visitante, dependendo de quantos adeptos estão presentes.

A segunda razão possível é que menos tempo de compensação seja concedido em partidas disputadas à porta fechada. Embora, na pequena amostra de partidas sem adeptos estudada, essa diferença geralmente não seja estatisticamente significativa.

Carl Singleton

Tempo de compensação atribuído em jogos à porta fechada em comparação com os outros.

Isto não significa que os árbitros profissionais de futebol são conscientemente tendenciosos. De facto, estudos mostram que alguns dos preconceitos que exibem são subconscientes, refletindo o ambiente de alta pressão em que tomam decisões. Portanto, a introdução de tecnologia como o famigerado VAR pode ser vista como uma tentativa de tornar o jogo mais justo.

Os adeptos aparecem à espera de ver a equipa vencer e, por isso, seja lá o que for, há um argumento de que uma certa vantagem caseira é algo positivo. Atrai multidões e mantém o interesse delas – apenas os mais ferrenhos pagam para ver a sua equipa perder todas as semanas.

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