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Cães jovens podem ser mais parecidos com os adolescentes do que pensávamos

Os jovens cães e os adolescentes humanos podem ter mais em comum do que aquilo que se pensava anteriormente. Ambos passam por uma fase de obediência reduzida.

O comportamento dos cães durante a adolescência é mais parecido com o dos adolescentes humanos do que pensávamos anteriormente. A conclusão é a de um novo estudo publicado, esta quarta-feira, na revista científica Biology Letters.

A investigação confirma o que muitos donos de cães suspeitavam há muito tempo: os cães têm uma fase passageira de obediência reduzida aos seus donos durante a puberdade. O estudo também destaca uma interação fascinante entre a puberdade em cães e o tipo de apego que o cão mostra em relação ao dono.

A adolescência é um longo período de mudança durante o qual partes do cérebro juvenil são remodeladas num cérebro adulto. Durante este período, a remodelação dos nossos circuitos neurais é impulsionada por mudanças hormonais dramáticas e afeta diretamente o comportamento.

As mudanças comportamentais observadas em adolescentes humanos incluem capacidade reduzida de controlar os seus impulsos e emoções, maior irritabilidade e comportamento propício a correr riscos.

Estudos mostram que a adolescência é um período vulnerável para as relações entre pais e filhos, com um aumento do conflito típico desta fase. Também há ligações entre os problemas de comportamento na fase adolescente e a qualidade do relacionamento entre pais e filhos. Foi demonstrado que as crianças que têm um apego inseguro em relação às figuras dos pais entram na puberdade mais cedo e exibem maior conflito com os pais durante a adolescência.

Adolescência em cães

A relação dono-cão tem muitas semelhanças com a relação pai-filho, baseando-se em mecanismos de ligação comportamentais e hormonais semelhantes.

Com base no que sabemos sobre o desenvolvimento neurológico em mamíferos e como a adolescência nas pessoas afeta o relacionamento entre pais e filhos, a equipa de cientistas levantou a hipótese de que a adolescência canina poderia ser um período vulnerável para a relação entre o dono e o cão.

É esperado um impacto particular da puberdade na dinâmica entre dono e cão, devido aos desejos conflituantes de viver com a sua família humana e procurar reproduzir-se com outros cães.

Seguindo um grupo de crias de cães-guia durante o primeiro ano de vida, os investigadores averiguaram se as relações entre dono e cão seriam paralelas às relações entre pais e filhos de algumas maneiras específicas. Para isso, foram utilizados dados recolhidos por meio de uma combinação de questionários de comportamento preenchidos por cuidadores e treinadores de 285 cães e testes comportamentais com 69 desses cães.

Semelhanças aos humanos

Os resultados do estudo destacam três maneiras específicas pelas quais as relações entre dono e cão na adolescência refletem a relação entre pai e filho.

Mostrou-se pela primeira vez que os cães apresentam um comportamento de conflito aumentado, caracterizado por uma redução na obediência, durante a puberdade. É importante realçar que esta obediência reduzida é vista apenas na maneira como o cão se comporta com o cuidador: os cães ainda se comportam bem com estranhos, conforme relatado através dos questionários.

Esta desobediência socialmente específica pode servir para testar a força da relação do cão com o cuidador, na tentativa de restabelecer um laço seguro.

Conforme esperado, os cães que tinham um apego mais inseguro ao cuidador eram os menos propensos a obedecer ao cuidador durante puberdade.

Num paralelo final com a biologia humana, as cadelas tornavam-se reprodutivamente maduras mais cedo se tivessem um apego mais inseguro ao dono. Estas revelações sugerem a possibilidade de influência interespécie do vínculo humano-animal no desenvolvimento reprodutivo dos animais e destacam a adolescência como um período vulnerável para as relações entre dono e cão.

Talvez a coisa mais importante a reter para os donos dos cães seja que estas mudanças de comportamento são uma fase passageira. Quando os cães tinham 12 meses, o seu comportamento tinha regressado ao estado anterior à puberdade, ou na maioria dos casos, tinha melhorado.

Nos cães, como nas pessoas, parece que o comportamento adolescente existe, mas não dura. Isto é crucial para qualquer novo proprietário de cães, uma vez que a adolescência é a idade mais frequente em que os cães são abandonados e acabam em abrigos de animais.

Também é extremamente importante que os proprietários não castiguem os cães por desobediência ou que se afastem deles neste momento, pois isso provavelmente tornará o problema pior a longo prazo, como acontece nas pessoas.

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