Uma equipa de arqueólogos encontrou fragmentos de ossos numa gruta na Bulgária, que se confirmam pertencer aos primeiros humanos modernos a habitar a Europa, mil anos antes do que se acreditava anteriormente.
Perceber a narrativa da chegada dos nossos ancestrais, os primeiros Homo sapiens, à Europa sempre foi algo que aguçou a curiosidade dos cientistas. No entanto, determinar a linha do tempo precisa dos eventos está longe de ser fácil, uma vez que as amostras humanas do Paleolítico Superior Inicial são muito escassas.
Num novo estudo publicado esta segunda-feira na revista científica Nature, uma equipa de arqueólogos examinaram os restos humanos mais antigos alguma vez encontrados na Europa e retiraram algumas conclusões desta análise. As descobertas também foram documentadas num estudo publicado no mesmo dia na revista Nature Ecology & Evolution.
Novos espécimes foram descobertos em 2015 na Gruta de Bacho Kiro, na Bulgária, resultando na descoberta dos pedaços de ossos analisados por esta equipa de arqueólogos, que conta com a participação de Vera Aldeias, investigadora portuguesa da Universidade do Algarve.
“As descobertas da Gruta de Bacho Kiro vêm demonstrar que os Homo sapiens chegaram à Europa cerca de 8 mil anos antes da extinção dos Neandertais e que trazem com eles novas formas de trabalhar a pedra e o osso em utensílios e pendentes”, disse Vera Aldeias, citada pela UAlg.
“Dada a antiguidade e relevância destas descobertas, um dos aspetos essenciais do meu trabalho consistiu em estudar a preservação destas ocupações. As minhas análises mostram que a camada de terra que contém estes achados foi selada por areias e argilas depositadas por água dentro da gruta, o que terá levado a uma excelente preservação destas antigas ocupações humanas, sem introduções de materiais de épocas mais recentes”, acrescentou.
De acordo com o All That’s Interesting, através de uma combinação de técnicas que envolvem datação por radiocarbono e sequenciamento de ADN mitocondrial, os investigadores estimam que estes seres humanos habitaram a gruta búlgara entre 45.820 e 43.650 anos atrás. Alguns dos restos mortais podem até remontar a 46.940 anos atrás.
Descobertas desta idade são geralmente atribuídas aos Neandertais, embora alguns investigadores tenham sugerido a existência de incursões ocasionais de Homo sapiens na Europa anteriores a estas datas, realça o comunicado da Universidade do Algarve.
Para além dos restos humanos, a a equipa descobriu milhares de ossos de animais, ferramentas em pedra e em osso, contas e pendentes. Os especialistas acreditam que isto significa que houve contacto entre Homo sapiens e Neandertais.
“Eles trocaram genes, mas também técnicas: o tipo de pingente encontrado em Bacho Kiro veio a ser produzido posteriormente pelos últimos Neandertais da Europa Ocidental”, explicou o coautor Jean-Jacques Hublin.
“Esta onda inicial de pessoas modernas é anterior à extinção final dos Neandertais na Europa ocidental 8.000 anos. Essa sobreposição cronológica das duas espécies na Europa indica que a substituição de uma espécie pela outra foi um processo mais complexo do que aquele que era pensado pela maioria dos estudiosos”, acrescentou.