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Um bebé chamado Idai, numa família com nomes de desastres naturais

(H) IFRC / Finnish Red Cross / Benjamin Suomela

“Acabava de ter o parto, nem tinha segurado ainda no bebé, quando ouvi gritos de socorro e um barulho de corrente de água a vir na nossa direção”, descreveu a mãe, recordando o 15 de março de 2019.

Idai Jossias é o bebé que ganhou o nome do ciclone mais violento de que se tem memória no centro de Moçambique. Um ano depois representa um misto de consternação e alegria duma família marcada pela catástrofe.

O bebé nasceu a 15 de março de 2019, durante a noite, na palhota de uma parteira da aldeia, horas depois de a grávida ter abandonado o centro de saúde de Dombe, Manica, centro de Moçambique, devido ao temporal.

“Acabava de ter o parto, nem tinha segurado ainda no bebé, quando ouvi gritos de socorro e um barulho de corrente de água a vir na nossa direção”, conta à Lusa Isabel Zacarias, mãe do Idai.

“Quando me consegui sentar, a água invadiu a palhota”, arrastou a placenta e a trouxa do parco enxoval.

Apanhei o bebé pelos braços, sem roupa, e pus-me a correr. A parteira seguiu-me e assim escapámos com a água pelo joelho”, acrescenta a camponesa de 40 anos, mãe de outros sete filhos.

Hoje, enquanto carrega o bebé para a rotina diária, incluindo a machamba (quinta), Isabel Zacarias tem um misto de sentimentos.

“Eu fico chocada com a forma como tive o parto, no meio de um luto. Perdi sete parentes naquela noite, incluindo as minhas irmãs”, disse Isabel Zacarias, que não vai celebrar o primeiro aniversário do filho, apesar de “estar feliz por ele estar a crescer saudável”.

Simão Jossias Mutchaneia, pai do bebé Idai Jossias, um homem polígamo com 21 filhos, ficou marcado por duas épocas chuvosas severas na sua história e todas as épocas ganharam nomes na sua família.

Em 2000, aquando das piores cheias em Moçambique, e quando a aldeia de Dombe ficou submersa, Simão Jossias Mutchaneia deu o nome de 2000 à filha que nasceu numa árvore, durante as cheias – filha que a 1 de janeiro deste ano completou 20 anos. Naquelas cheias, o camponês de 57 anos foi forçado a mudar-se para a zona alta de Dombe.

O filho mais novo da família ganhou agora o nome de Idai por ter nascido no meio de uma tempestade, que trouxe luto a todas as famílias das suas quatro esposas.

“Um ano depois, quando eu olho para ele, lembro-me daquele massacre do ciclone Idai. Perdemos muitos familiares, tantos que não conseguimos contar”, disse Mutchaneia, conhecido alfaiate, que disfarça a tristeza no tic-tac da sua máquina de costura a pedais.

O camponês diz que, agora, a luta passa por assegurar que o bebé cresça saudável, diante da nova ameaça, a fome, devido à destruição da produção ainda na fase de maturação.

Uma situação que pode agravar a já débil segurança alimentar da família, que, como tantas outras em Dombe, depende da agricultura de sequeiro.

O período chuvoso de 2018/2019 foi dos mais severos de que há memória em Moçambique: 714 pessoas morreram, incluindo 648 vítimas de dois ciclones (Idai e Kenneth) que se abateram sobre Moçambique.

O ciclone Idai atingiu o cento de Moçambique em março, provocou 603 mortos e a cidade da Beira, uma das principais do país, foi severamente afetada. O ciclone Kenneth, que se abateu sobre o norte do país em abril, matou 45 pessoas.

// Lusa

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