Há muito que está provado que fumar é uma das principais causas de mortes por doenças cardíacas. Agora, há evidências crescentes de que os cigarros eletrónicos podem causar danos ao coração.
Em dois estudos que serão apresentados na próxima reunião da American Heart Association, o uso de cigarros eletrónicos mostrou impacto no colesterol e na capacidade do corpo de bombear sangue, noticiou a NBC News.
Numa dessas investigações, membros da Faculdade de Medicina da Universidade de Boston, nos Estados Unidos (EUA), compararam os níveis de colesterol de quatro grupos de adultos: pessoas que usavam cigarros eletrónicos; pessoas que fumavam cigarros convencionais; pessoas que usavam os dois produtos e não fumadores. Todos os 476 participantes eram saudáveis e não haviam sido diagnosticados com doenças cardíacas.
As conclusões mostraram que quem utiliza o ‘vaping’ apresentava níveis mais altos de colesterol não saudável (LDL), em comparação com os não fumadores. Quanto ao colesterol saudável (HDL), os níveis eram mais baixos entre as pessoas que usavam os cigarros tradicionais e eletrónicos.
“Este é um retrato instantâneo do que está a acontecer no momento” nos corpos das pessoas que fumam, disse Sana Majid, autora do estudo e pós-doutorada em Biologia Vascular na Faculdade de Medicina da Universidade de Boston.
“Ainda não sabemos muito sobre os cigarros eletrónicos. Levará algum tempo para entendermos como estes afetam a saúde do coração” a longo prazo, disse à NBC News.
Um segundo estudo analisou como fumar cigarros tradicionais ou eletrónicos com nicotina afetava a capacidade do coração de bombear sangue pelo corpo, em repouso e durante o exercício. Essa pesquisa incluiu 19 fumadores, na faixa dos 20 e 30 anos, além de um pequeno grupo adicional de pessoas que não fumavam.
Normalmente, o fluxo sanguíneo aumenta durante o exercício. Isso foi observado no grupo não fumador, usando um tipo de imagem ultrassonográfica designada ecocardiograma de contraste miocárdico.
Sabe-se que o tabaco tradicional reduz o fluxo sanguíneo durante o exercício, o que também foi observado no estudo. Após o exercício, o estudo constatou que o fluxo sanguíneo voltou ao normal em participantes fumadores.
Contudo, os investigadores descobriram algo surpreendente quando mediram o fluxo sanguíneo de utilizadores de cigarros eletrónicos: a capacidade do seu coração em bombear sangue diminuiu tanto durante o exercício quanto em repouso.
“É a evidência de que há algo errado com a regulação do fluxo sanguíneo em fumadores e talvez ainda mais em fumaadores de cigarro eletrónico”, indicou Florian Rader, autor do estudo e diretor médico do Human Physiology Laboratory.
“Esses produtos são comercializados como alternativas saudáveis e, no entanto, vemos cada vez mais evidências de que, definitivamente, não são saudáveis”, acrescentou.
Esta não é a primeira vez que foi constatado que o ‘vaping’ afeta a função dos vasos sanguíneos. Uma pesquisa publicada em agosto pela Universidade da Pensilvânia também mostrou que o uso de cigarros eletrónicos reduziu o fluxo sanguíneo, efeito que durou cerca de uma hora após a sua utilização. Neste estudo, os cigarros eletrónicos não continham nicotina, apenas aromas e adoçantes.
Efeito do ‘vaping’ nos pulmões
Os efeitos do ‘vaping’ para os pulmões já são conhecidos. As novas descobertas ocorrem em meio a uma crescente epidemia, que as autoridades de saúde designam como EVALI, abreviação de “e-cigarette or vaping product use associated lung injury.” (“cigarro eletrónico ou produto de vaping associado a lesões pulmonares”, em tradução livre).
Durante vários meses, os Centros de Controle e Prevenção de Doenças contabilizaram um aumento do número de casos confirmados da doença relacionada ao ‘vaping’, que agora é de 2.051.
Os pacientes chegam ao hospital com sintomas graves: dificuldade em respirar, tosse, febre, fadiga extrema, vómitos e diarreia. Muitos necessitaram de assistência de aparelhos para respirar, em unidades de cuidados intensivos. Para alguns, a doença foi fatal. Pelo menos 39 pacientes morreram de EVALI. Outras mortes continuam sob investigação.
Nenhuma marca ou ingrediente foi apontado como a causa singular. No entanto, os Centros de Controle e Prevenção de Doenças relataram um “avanço” na semana passada, apontando o óleo de vitamina E como causa.
Espera-se que a administração Trump tenha algum tipo de ação contra o ‘vaping’, embora não esteja claro se isso incluirá uma proibição de sabores de menta, doces e frutados, que demonstraram ser populares entre crianças e jovens.
Fui fumador e fui vaper. Neste momento sou ex fumador e ex vaper e portanto, não preciso de tomar partidos. Para terem uma ideia, fumava 2 maços/dia. Enquanto vaper (durante 4 anos) vaporizava entre 20ml e 30ml por dia (quem usa cigarro electrónico sabe que é uma grande quantidade de e-liquido). Durante os 4 anos nunca senti dores, dificuldades respiratórias, dores de cabeça, vómitos ou o que quer que seja. Pelo contrário, não tinha catarro, não me deitava com falta de ar (como acontecia com o cigarro convencional). As minhas análises (anuais) sempre estiveram dentro dos valores normais. No desporto, a minha capacidade de resistência aumentou. Óbvio que o cigarro electrónico não é inócuo e o melhor é nem tocar em nenhum cigarro ou produto deste género. Mas… o que esta notícia não diz, é que a maior parte destes indivíduos com problemas pulmonares consumiram óleo de cannabis (sabe Deus onde o arranjaram) no vaporizador. Mas a verdade é que quando tabaqueiras encomendam estudos, quando lançam produtos inovadores logo de seguida porque perderem “clientes”, quando estudos são controversos e quando estados perdem milhões em impostos porque perdem na compra de tabaco (e podem dizer que o SNS depois gasta muito no tratamentos de saúde, etc. Eu pergunto… qual SNS? A miséria que temos?)… é difícil saber em quem acreditar. Como disse… o melhor é não usar nenhum.