Na noite eleitoral, Jerónimo de Sousa admitiu: “Perdemos”. 115 mil eleitores fugiram da órbita comunista, deixando a bancada parlamentar com cinco baixas. A derrota atingiu as áreas da saúde, trabalho, defesa, transportes e finanças na representação parlamentar comunista.
Logo na noite das eleições, Jerónimo tornou claro que não haverá mais “compromissos mútuos em termos formais e institucionais” com o PS e, logo a seguir, o Comité Central ratificou a ideia de que “não haverá papel”.
O partido regressou ao discurso onde a “luta de massas”, o “combate” e as “construção de alternativa” voltam a ser as principais linhas de estratégia política para a próxima legislatura. Para já, estão abertos a negociações sobre o próximo orçamento.
Os comunistas encolheram a sua esfera de influência para 300 mil eleitores, perderam dez câmaras para os braços do PS, um eurodeputado, um parlamentar na Madeira e cinco deputados na Assembleia da República. As quebras eleitorais atingiram, de forma mais ou menos inesperada, Setúbal, Lisboa, Porto, Braga e Faro, levando um deputado em cada um destes distritos.
Quando, na noite eleitoral, a questão da sua permanência na liderança foi levantada pelos jornalistas, Jerónimo disse: “É uma pergunta pertinente”, disse. “O que posso dizer é que, quando a Assembleia da República abrir, lá estarei” e “quem deve ficar preocupado são aqueles que estão com pressa de nos mandar embora”.
O secretário-geral do PCP salientou que o posicionamento dos comunistas ao longo da próxima legislatura estará dependente “das opções do PS” quanto a legislação e orçamentos, que só passarão se corresponderem às aspirações dos trabalhadores e do povo.
“Mantendo o PCP a sua iniciativa e intervenção, tal como aconteceu nos últimos quatro anos, será em função das opções do PS, dos instrumentos orçamentais que apresentar e do conteúdo do que legislar que o PCP determinará, como sempre com inteira independência política, o seu posicionamento, vinculado que está aos compromissos que assumiu com os trabalhadores e o povo”, afirmou o líder comunista num comício em Lisboa.
De acordo com Jerónimo de Sousa, “todo o caminho de avanço e de adoção de medidas que correspondam a direitos e aspirações dos trabalhadores e do povo contará sempre com a intervenção decisiva do PCP, assim como todas e quaisquer medidas contrárias aos seus interesses terão a firme oposição do PCP”.
Assim, é com base no seu projeto e no programa eleitoral que apresentou às legislativas que se disputaram no domingo que “o PCP desenvolverá a sua ação, iniciativa e proposta, e se posicionará para avaliar as opções e objetivos que o PS e o seu governo venham a inscrever na sua ação”, adiantou o líder.
Na quinta-feira à noite, o secretário-geral do PS afirmou que não fará qualquer acordo escrito de legislatura com outras forças parlamentares, mas frisou que a metodologia de trabalho adotada na anterior legislatura vai manter-se com os parceiros.
Na ótica do líder comunista, o facto de o PS não ter conseguido maioria absoluta no domingo “não é, por isso só, condição suficiente par garantir um percurso de novos e mais decisivos avanços”.
Jerónimo de Sousa avisa que “não há nenhum problema de estabilidade colocada na resposta aos problemas nacionais, o que se impõe é que o governo não desestabilize” e, por isso, “é a partir da política que executa, da resposta que dá ou não às aspirações e anseios dos trabalhadores e do povo, que resulta a estabilidade”.
Notando que a conjuntura atual é distinta daquela que saiu das eleições de há quatro anos, o secretário-geral do PCP criticou que a situação atual seja “motivo de grandes especulações e deturpações” cujo objetivo é “procurar atacar o PCP” e “atribuir-lhe posicionamentos que não tem”.
“Efabula-se acerca da natureza da solução encontrada há quatro anos e omite-se que tal solução foi o resultado de uma exigência ilegítima do então Presidente da República, Cavaco Silva, que se concretizou porque se tornou imperativo pôr fim a uma governação” PSD/CDS, salientou Jerónimo, apontando que “foi esse quadro de pressões e exigências que levou o PS a insistir na necessidade de uma formalização escrita”.
Agora, entende o líder comunista, propagandeia-se a ideia de que “alguém quer acabar com o que de facto nunca houve”, insistindo que “nunca houve, por mais que essa mentira tenha sido repetida ao longo de quatro anos, nenhum governo das esquerdas ou da esquerda, nenhuma maioria parlamentar de esquerda, mas apenas e tão-só uma solução para a criação das condições mínimas e bastantes para afastar” o anterior governo liderado por Pedro Passos Coelho.
Para que “não se alimentem quadros ilusórios de convergência, desligados do conteúdo concreto que os enforme, e que a partir de uma ou outra medida iludam opções estruturantes que limitem ou, mesmo, impeçam a resposta que se exige aos problemas” de Portugal, Jerónimo de Sousa fez questão de clarificar que a relação de forças da última legislatura “foi insuficiente” para acabar com “opções estruturantes da política de direita de que o governo do PS não quis libertar-se”.
As eleições de domingo, nas quais a CDU saiu com 10 deputados, “ficaram aquém do que solicitava e exigia o desenvolvimento e as necessidades de potenciação” da “luta em defesa dos interesses e dos trabalhadores e do povo”, o que leva o secretário-geral do PCP a sublinhar que, “se o desejo do povo português é o de melhorar a sua vida, as condições para garantir esse caminho de avanço estão por garantir”.
Ainda assim, reconheceu, a força que a CDU teve “servirá sempre para construir soluções que concretizem essa política alternativa, tal como para combater opções que a contrariem ou a coloquem mais longe de ser concretizada”.
ZAP // Lusa