As crianças portuguesas entre um e seis anos de idade comem quatro vezes mais proteína do que o recomendado. Esta é uma das mensagens da campanha que a Direcção-Geral da Saúde (DGS) lança nas redes sociais esta sexta-feira, Dia Mundial da Obesidade, que alerta para os erros alimentares dos mais novos.
De acordo com os últimos dados do estudo European Childhood Obesity Surveillance Initiative (COSI), uma em cada três crianças em Portugal tem excesso de peso, segundo noticiou o Público.
Cerca de 60% da ingestão de proteínas provêm do consumo de carnes e laticínios. Juntam-se o consumo de peixe, ovos e outros produtos, como leguminosas ou cereais, que também são fontes de proteína.
“Crianças pequenas devem consumir quantidades pequenas e às vezes os pratos têm quantidades quase iguais às dos adultos, o que é um erro”, disse ao Público Maria João Gregório, diretora do Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável.
De acordo com o Público, a culpa é muitas vezes da perceção errada de que as crianças precisam de mais alimento. Crianças entre um e os seis anos devem comer no máximo duas porções ou de carne ou de peixe por dia, sendo que uma porção equivale a 25 gramas. Já o ovo deve ter 55 gramas, o semelhante a uma classe M. No que diz respeito ao consumo de laticínios, os valores devem estar entre os 400 e os 500 ml/dia (cada pacotinho de leite que é servido nas escolas tem 200 ml).
Muito sumo, pouca fruta
Entre os alertas, que vão circular nas redes sociais da DGS, estão ainda os 52% de crianças entre os três e os seis anos que consomem todos os dias bebidas açucaradas e os 10% das crianças entre um e três anos que comem sobremesas doces todos os dias.
Quase todas as crianças até aos seis anos consomem sal acima do recomendado. Para as crianças dos quatro aos seis anos, o consumo de sal não deve ultrapassar os três gramas por dia e 99% consomem mais. Quanto às hortícolas, 55% das crianças entre os três e os seis anos não atinge a recomendação da ingestão diária: três a quatro porções por dia (90-100 gramas de hortícolas crus ou 45-50 gramas cozinhados).
“Apesar de parecer estar a haver uma diminuição do excesso de peso nas crianças entre os seis e os oito anos, ainda temos uma prevalência muito elevada, que atinge quase 30% das crianças. Quisemos identificar alguns hábitos inadequados que podem originar estes números”, explicou Maria João Gregório.
As mensagens para o Dia Mundial da Obesidade fazem parte de um projeto mais alargado para promover hábitos de alimentação saudável nos primeiros anos de vida.
Na próxima semana, no Dia Mundial da Alimentação, a DGS vai lançar a Estratégia Nacional para a Alimentação do Lactente e da Criança Pequena, com especial enfoque para os primeiros 1000 dias de vida.
E ainda o manual Alimentação Saudável dos 0 aos 6, “que tem um conjunto de orientações para pais, educadores e professores”. “A alimentação desde a creche até à escola é determinante para se ter sucesso na redução do excesso de peso”, salientou a responsável, que lembrou também as ações que Portugal tem desenvolvido no combate à obesidade infantil como a recente lei que restringe a publicidade dirigida a crianças.
Mais risco de ‘bullying’
As crianças “estão a pagar um preço alto por causa da obesidade”, alertou na quinta-feira a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Económico (OCDE), no relatório The Heavy Burden of Obesity: The Economics of Prevention.
“As crianças com excesso de peso obtêm notas mais baixas, têm mais probabilidade de faltar à escola e, quando crescem, têm menos probabilidade de concluir o ensino superior”, refere o documento, que analisou dados de 52 países.
As causas que podem explicar um maior insucesso escolar, apontou a OCDE, são a baixa auto-estima e o isolamento que muitas vezes a crianças obesas sentem por serem alvo de ‘bullying’ ou por serem excluídas de um grupo de amigos.
“Quase uma em cada cinco raparigas com obesidade relata ser vítima de ‘bullying’ nos países da OCDE”, lê-se no relatório, que faz uma análise com base num estudo de 2013/2014 a crianças entre os 11 e os 15 anos. Em Portugal, o risco de uma rapariga obesa sofrer ‘bullying’ é 2,25 vezes superior ao de uma com um peso saudável e nos rapazes esse risco é 1,64 vezes mais.
Da análise também se percebeu que crianças com maior índice corporal consideram ter pior desempenho do que aquelas que têm um peso saudável. Em Portugal, 60% dos rapazes com peso saudável classificam o seu desempenho acima da média da classe, mas só 52% dos rapazes obesos dizem o mesmo.
Nas raparigas, 52% com peso saudável consideram ter um bom desempenho escolar, percentagem que desce para 44% nas raparigas obesas. Em média, nos 32 países analisados, rapazes e raparigas com peso saudável têm 13% mais probabilidades de relatar um bom desempenho escolar em comparação com as crianças com obesidade.