Christine Lagarde termina esta quinta-feira oficialmente o seu percurso no Fundo Monetário Internacional (FMI), que liderou nos últimos oito anos, para assumir a presidência do Banco Central Europeu (BCE), sucedendo a Mario Draghi, a 1 de novembro.
Christine Lagarde será a primeira mulher a assumir a presidência do Banco Central Europeu (BCE), depois de ter sido também a primeira mulher na liderança do FMI.
Lagarde diz o adeus oficial à instituição com sede em Washington, nos Estados Unidos, da qual foi líder nos últimos oito anos, para partir rumo à autoridade monetária da zona euro, que teve o italiano Mario Draghi como presidente, também nos últimos oito anos.
Foi em 16 de julho que Lagarde apresentou a demissão do cargo de diretora-geral do FMI, com efeito a 12 de setembro, e o Conselho Executivo aceitou o pedido, elogiando a sua “excecional” administração e liderança “inovadora e visionária”. Naquele dia, no Twitter, Lagarde indicou que foi “um privilégio servir” os 189 países membros do Fundo.
No início de julho, os chefes de Estado e de Governo da União Europeia (UE) tinham chegado a acordo sobre as nomeações para os cargos institucionais de topo, designando Christine Lagarde para a presidência do BCE, sucedendo ao atual presidente, Mario Draghi, cujo mandato termina em 31 de outubro.
Christine Lagarde tornou-se, em 2011, na primeira mulher a liderar o FMI, depois da liderança de Dominique Strauss-Kahn, outro antigo ministro francês que se demitiu após ser alvo de acusações de agressão sexual contra uma empregada de um hotel nova-iorquino.
Agora, a antiga ministra francesa será novamente pioneira, tornando-se na primeira mulher a liderar o BCE. Por enquanto, o banco central da zona euro tem apenas duas mulheres entre os 25 membros do seu órgão máximo, o Conselho de Governadores.
Antes de Mario Draghi, o BCE teve como presidente o francês Jean-Claude Trichet e o holandês Wim Duisenberg, que foi o primeiro presidente da instituição.
Presença inconfundível, com um discurso acutilante e um estilo aplaudido como distinto, elegante e chique, Lagarde nasceu há 63 anos em Paris e licenciou-se em Direito, tendo uma pós-graduação em Ciência Política. Começou a exercer advocacia em 1981, contratada pelo escritório internacional de advogados Baker & McKenzie, no qual trabalhou como especialista em questões laborais, de concorrência e fusões e aquisições.
Com o tempo, Christine Lagarde foi subindo na hierarquia da Baker & McKenzie, já nos Estados Unidos, e entrou em 1995 no Conselho Executivo, tornando-se, quatro anos depois, sua presidente, e a primeira mulher a ocupar a direção da firma. Em junho de 2005 deixou a empresa para fazer parte do governo de Nicolas Sarkozy.
Foi nomeada em 2005 para a pasta do Comércio e, dois anos depois, Nicolas Sarkozy escolheu-a para assumir a tutela da Economia e Finanças. Em 2009, o diário Financial Times considerou-a a melhor ministra das Finanças na Europa. Como ministra francesa das Finanças, presidiu ao Ecofin no segundo semestre de 2008 e depois ao G20 durante a presidência francesa, em 2011.
Quando terminou o seu primeiro mandato de cinco anos no FMI, após ter atuado na primeira linha de gestão da crise da dívida na zona euro, foi reeleita por consenso para um segundo mandato, em julho de 2016, sem que qualquer outro candidato se tivesse apresentado.
Os economistas ouvidos pela Lusa, no início de julho, consideraram que Christine Lagarde reúne as características necessárias para suceder a Mario Draghi e ser bem sucedida como presidente do BCE, apesar de terem manifestado alguma surpresa na escolha. Os especialistas consideraram também que Lagarde vai herdar do ainda presidente do BCE, Mario Draghi, uma situação difícil, mas menos desafiante do que aquela que este enfrentou com a crise do euro.
Em 4 de setembro, na audição perante a comissão de Assuntos Económicos e Monetários do Parlamento Europeu, Lagarde elogiou o trabalho do seu antecessor no BCE, Mario Draghi, e garantiu que seguirá “os mesmos princípios”.
A ex-diretora-geral do FMI disse que “os desafios que justificam a política atual do BCE não desapareceram”, pelo que pretende seguir uma política acomodatícia”, com “agilidade”, para estimular a economia.
No entanto, Lagarde frisou que a política monetária não pode substituir as políticas orçamentais, nem ser sobrecarregada por estas, e disse esperar nunca ter de fazer um anúncio como o de Draghi em 2012, quando o ainda líder do BCE anunciou que a instituição faria “o que fosse preciso para preservar o euro”.
A comissão de Assuntos Económicos e Monetários do Parlamento Europeu deu nesse dia parecer favorável à nomeação da francesa Lagarde para a presidência do BCE, numa votação não vinculativa.
O parecer será votado pelo Parlamento Europeu na sessão de rentrée a ter lugar em Estrasburgo, França, na próxima semana (entre os dias 16 e 19). Christine Lagarde assumirá a presidência do BCE a 1 de novembro próximo, para um mandato de oito anos.
// Lusa