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Nova análise ao sangue pode detetar cancro do ovário dois anos antes de qualquer outro método

O cancro do ovário tem um elevado risco de mortalidade porque é frequentemente diagnosticado num estágio muito tardio. Uma nova análise pode permitir alterar este panorama e detetar mais cedo o cancro.

Num novo estudo publicado no mês passado na revista British Journal of Cancer, a equipa de cientistas mostrou que as taxas de deteção podem ser significativamente melhoradas através da triagem de um conjunto específico de proteínas na corrente sanguínea. Isto pode significar a deteção do cancro do ovário até dois anos antes daquilo que os exames atuais permitirem.

Os testes de cancro seguem uma linha dura entre não diagnosticar um cancro real e diagnosticar incorretamente pessoas saudáveis. Ao tornar o teste muito rigoroso, não conseguirá detetar vestígios de cancros presentes. Se for muito brando, detetará falsamente o cancro.

Embora possa parecer óbvio que devemos inclinar a balança a favor de detetar todos os cancros, o ónus que isso coloca no sistema de saúde pode ser insustentável. Sem mencionar o stress e o tratamento potencialmente perigoso que isso pode significar para pessoas saudáveis.

A equipa de cientistas está a trabalhar para melhorar esse equilíbrio no diagnóstico do cancro do ovário, cujas estatísticas falam por si. Em 2016, 4.227 mulheres morreram deste tipo de cancro.

Quando o cancro do ovário é detetado precocemente, as perspetivas da paciente são muito boas, com aproximadamente 90% das mulheres diagnosticadas no estágio I (estágio inicial) a sobreviver cinco ou mais anos. Contudo, o cancro do ovário maior parte das vezes encontrado tarde demais. No Reino Unido, cerca de seis em cada dez casos são detetados no último estágio, resultando numa grande taxa de mortalidade.

A deteção tardia do cancro do ovário deve-se principalmente à natureza “não específica” dos seus sintomas. Os atuais testes não são confiáveis o suficiente e falham em apontar corretamente e com eficácia se realmente a paciente tem cancro.

Por esta razão, os cientistas trabalharam para desenvolver uma combinação de proteínas que possam usar para identificar o cancro mais cedo do que é atualmente possível.

Cápsula do tempo de amostras sanguíneas

Com uma panóplia de marcadores de sangue à disposição, o próximo desafio foi testar a eficácia num grande grupo de mulheres. Parte do sucesso do estudo, admitem os autores Bobby e Claren Graham, veio do incrível conjunto de dados a que tiveram acesso, graças ao Estudo Colaborativo do Reino Unido para Triagem de Cancro do Ovário (UKCTOCS).

Das 200.000 mulheres registadas nesse banco de dados, os investigadores conseguiram selecionar 80 mulheres (49 casos de cancro do ovário e 31 pessoas saudáveis). Foram recolhidas anualmente amostras de sangue, durante sete anos antes dos pacientes com cancro do ovário serem diagnosticados com a doença.

Com esta cápsula do tempo, os cientistas puderam observar como os níveis das quatro proteínas-alvo mudavam ao longo do tempo entre pacientes e indivíduos saudáveis. Em essência, permitiu ver diretamente se as proteínas diferiam entre os pacientes e as pessoas saudáveis ao longo do tempo.

Como as amostras foram recolhidas por um período tão longo, foi possível rastrear ao longo dos sete anos para ver quando é que foi a primeira vez que as proteínas permitiriam detetar a doença.

Em seguida, desenvolveram uma ferramenta computorizada que avaliava alterações nos níveis de proteínas para determinar o “risco previsto” de cancro do ovário para cada pessoa. Este trabalho inicial mostrou que a ferramenta de triagem tem o potencial de diagnosticar o cancro um a dois anos antes do que seria capaz com o diagnóstico atual.

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