Não há um gene que determine isoladamente a homossexualidade, de acordo com um novo estudo científico. Mas esta preferência sexual também está inscrita no código genético que influencia a sua manifestação.
Estas conclusões são de um estudo realizado por uma equipa multidisciplinar internacional que envolveu quase meio milhão de pessoas. Trata-se da maior pesquisa já realizada em torno da influência dos genes no comportamento sexual.
O estudo publicado na revista Science apurou que não há um gene isolado que permita prever se uma pessoa se vai tornar homossexual. Contudo, há variações no código genético que estão associadas a esta orientação sexual, de acordo com as conclusões da equipa internacional.
“É efectivamente impossível prever o comportamento sexual individual a partir do seu genoma”, constata o co-autor do estudo, Ben Neale, geneticista estatístico no Instituto Broad do MIT (Instituto Tecnológico de Massachusetts) e na Universidade de Harvard, em declarações citadas pelo Live Science.
Contudo, “há muitos, muitos genes que predispõem uma pessoa para comportamentos para com o mesmo sexo”, acrescenta o co-autor Brendan Zietsch, director do Centro de Psicologia e Evolução da Universidade de Queensland na Austrália. Cada um desses genes, “individualmente tem um efeito muito pequeno, mas juntos têm um efeito substancial“, acrescenta Zietsch.
Este investigador alerta ainda para o que define como “a interpretação errada” de que “se a preferência pelo mesmo sexo é influenciada geneticamente, deve, por isso, ser totalmente determinada geneticamente”. “Isso não é verdade. Indivíduos geneticamente idênticos – gémeos – têm, muitas vezes, orientações sexuais diferentes“, diz Zietsch.
“Sabemos que também há influências não genéticas, mas não percebemos isto muito bem e o nosso estudo não diz nada sobre elas”, atesta Zietsch. “Podem ser efeitos biológicos não genéticos ou o ambiente pré-natal no útero”, afiança.
“Correlação genética” entre homossexualidade e personalidade
A investigação teve por base dados do organismo inglês Biobank relativos a 410 mil pessoas, com idades entre os 40 e os 70 anos, e da empresa norte-americana 23andMe sobre 68.500 pessoas, com idade média de 51 anos.
Participaram na pesquisa geneticistas, psicólogos, sociólogos e especialistas em estatística de entidades de referência, como o MIT e a Universidade de Harvard.
As conclusões indicam que há “uma correlação genética” entre a homossexualidade e certos traços de personalidade, como a sensação de solidão, o espírito de aventura para viver novas experiências e comportamentos de risco como consumir marijuana e tabaco.
Todavia, os investigadores alertam que “a causalidade não ficou clara”, notando que o estigma associado à homossexualidade pode “provocar ou exacerbar problemas de saúde mental”, como repara Zietsch.
O estudo também detectou que uma das variações genéticas detectadas “está localizada no trecho de ADN que aloja vários genes relacionados com o sentido do cheiro“, como explica a investigadora que liderou o estudo, Andrea Gana, que integra o MIT e a Universidade de Harvard.
“Sabemos que o cheiro tem um forte laço com a atracção sexual, mas as suas ligações aos comportamentos sexuais não são claras”, destaca Gana.
O estudo também revelou que os genes podem ter mais influência no comportamento homossexual dos homens do que nas mulheres, o que pode dever-se a factores biológicos, tais como os níveis de testosterona e de estrogénio.
Os autores reparam, contudo, que “normas sociais de género em relação ao número de parceiros sexuais” que as mulheres devem ter, podem fazer com que elas omitam detalhes quando falam sobre o seu comportamento sexual, o que pode ter deturpado os resultados.
Os investigadores também fazem questão de sublinhar que as conclusões do estudo “não devem de forma alguma ser interpretadas de modo a inferir que as experiências de indivíduos LGBTQ são erradas ou um distúrbio”. “Na verdade, este estudo reforça as provas de que um comportamento sexual diverso é parte natural da variação humana geral”, concluem.