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Milionários árabes compram chitas como animais de estimação (e isso está a levar à sua extinção)

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As chitas podem estar exterminadas num prazo de dois a três anos. O alerta é lançado por uma organização de defesa desta espécie que denuncia o aumento de tráfico ilegal para países da península arábica.

“Em dois anos, não teremos chitas”, revela a bióloga norte-americana, Laurie Marker, fundadora da organização Cheetah Conservation Found (CCF). Segundo a cientista, com as atuais taxas de tráfico desta espécie, sobretudo na região da Somalilândia, não vão ser precisos mais de dois anos para que estes felinos sejam extintos.

Na região da Somalilândia  um Estado separatista da Somália, considerada a principal rota de tráfico desta espécie em África — os animais de contrabando são arrumados em caixotes apertados ou caixas de papelão em barcos para depois serem enviados através do Golfo de Aden para a Península Arábica.

A organização revela que todos os anos são traficados cerca de 300 crias de chitas, o mesmo número de população adulta que existe em todas as áreas protegidas em África.

“A tendência de tráfico é de proporções epidémicas“, refere a fundadora da CCF, organização que se dedica a salvar chitas. “Basta fazer as contas. A matemática mostra que será apenas uma questão de dois anos até não haver nenhuma chita”, sublinha Laurie Marker à CNN.

Um relatório da CCF revela que existem menos de 7500 chitas na natureza. Outras mil estão a ser mantidas em cativeiro em mãos privadas nos países do Golfo para serem vendidas ilegalmente através da Internet.

Embora muitos destes países  como os Emirados Árabes Unidos e a Arábia Saudita  proíbam a compra e venda de animais selvagens, a fiscalização é negligente e a maioria destes felinos acaba em mansões do Golfo Pérsico, onde são ostentados como símbolos de status da população mais rica e exibidos nas redes sociais.

Um dos vídeos publicados nas redes sociais, exibidos na reportagem da CNN, mostra uma chita “de estimação” a assistir a um programa da National Geographic, ficando agitada quando vê um dos seus no ecrã. “É apaixonada pela sua família”, lê-se na legenda.

CNN

Foto de um saudita no Instagram, onde é possível vê-lo a passear a sua chita de estimação com uma coleira.

Outros posts mostram chitas deitadas em carros de luxo, a ser empurradas para piscinas, a serem alimentadas com gelados e doces ou a serem provocadas por um grupo de homens.

Laurie Marker relembra que para as chitas uma vida confinada, como animal de estimação, pode ser mortal. O mesmo acontece com a própria viagem que se destina ao contrabando. A cientista afirma que três a quatro animais acabam por morrer durante a viagem e muitos chegam ao destino com as patas partidas.

Segundo explica a bióloga, as chitas, como o mamífero terrestre mais rápido do mundo, precisam de espaço para correr e uma dieta especial, o que não acontece durante a viagem. Por outro lado, a maioria dos novos donos não sabe como cuidar das chitas.

A maioria da espécie em cativeiro morre dentro de um ano ou dois, afirma a especialista à CNN. “As pessoas que têm chitas como animal de estimação estão a causar a extinção da espécie”, reforça Marker.

Veterinários de países do Golfo confirmaram este quadro, mas falaram sob anonimato por causa da sensibilidade do assunto. “As chitas passam terrivelmente em cativeiro”, afirma um veterinário que tratou dezenas destes felinos nos últimos cinco anos, sendo que muitos deles não sobreviveram.

A Somalilândia é uma das partes menos desenvolvidas do mundo e a sua pobreza está a fazer com que as pessoas se envolvam neste comércio ilícito, mas lucrativo.

Chitas à venda online

Um estudo da CCF feito no ano passado documentou 1367 chitas à venda nas plataformas de redes sociais entre janeiro de 2012 e junho de 2018, sobretudo nos estados do Golfo Árabe. A maioria das vendas foi realizada no Instagram e no YouTube.

Os três principais vendedores de chitas do mundo são da Arábia Saudita e representam um quinto de todos os anúncios, de acordo com a CCF. Apenas com uma pesquisa no Google, é possível encontrar um mercado saudita online de chitas. Um dos vendedor de chitas, de Riad, também vendia leões.

“Qualquer chita que queira, pode pedir e nós importaremos. Quer masculino, quer feminino. Não é um problema”, disse um vendedor saudita à CNN por telefone, revelando ainda que tinha acabado de concluir uma venda, mas que conseguia entregar uma chita dentro de 25 dias.

O vendedor contou que as chitas eram criadas em boas condições e recomendou alimentá-las com frango, algo que os veterinários aconselham a não fazer porque tal causa problemas de saúde.

O ‘dealer’ explicou que as crias com cerca de dois a três meses estavam em oferta, assim como as chitas mais velhas. Os preços começavam por volta dos seis mil euros, mas havia desconto em pedidos com mais de uma chita.

Outros vendedores que a CNN encontrou online estavam a vender cada chita por mais de nove mil euros. O Governo saudita recusou-se a responder a estes dados.

Estima-se que o tráfico de animais selvagens chegue a 20 mil milhões por ano. De acordo com a ONU e a Interpol está entre as cinco principais indústrias ilícitas do mundo, ao lado do tráfico de drogas e de seres humanos.

A ministra do Meio Ambiente da Somalilândia, Shukri Haji Ismail Bandare, reiterou que há muito que as autoridades podem fazer para deter a fonte do comércio. “Temos que parar a procura dos países árabes”, explicou. A fundadora da CCF apelou aos líderes destes países para consciencializar o público sobre o problema.

Em comunicado à CNN, o Ministério de Mudanças Climáticas e Meio Ambiente dos Emirados Árabes Unidos negou que houvesse chitas em casas particulares do país, sublinhando que os existentes estão em “instalações licenciadas“.

O ministério também disse que rastreia anúncios online para a venda de espécies ameaçadas, tendo removido até agora 800 desses sites.

DR, ZAP //

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