A decisão da autarquia da vila de Povoação, na ilha de São Miguel, nos Açores, de demolir uma ponte centenária para construir uma nova, mais larga, para escoar melhor o trânsito, está a gerar revolta. A infraestrutura é “única” na ilha, segundo um investigador.
Os moradores de Povoação, na ilha de São Miguel, nos Açores, têm-se manifestado contra o projecto de demolição da chamada Ponte Nova, situada na Ribeira do Além.
O director regional das Obras Públicas e Comunicações, Frederico Furtado Sousa, explica ao Correio dos Açores que a demolição vai mesmo avançar, com o intuito de construir uma nova ponte, mais larga, para facilitar o escoamento do trânsito e permitir “melhorar a segurança rodoviária” e pedonal.
A actual ponte centenária não permite “a circulação pedonal em condições de segurança, nem a passagem, em simultâneo nos dois sentidos de viaturas pesadas”, acrescenta Furtado Sousa.
A futura ponte a construir em betão armado, que vai ter uma via de 7 metros de largura e passeios de ambos os lados, visa ainda dar maior vazão ao caudal da ribeira, para evitar as cheias que são frequentes na zona.
Mas a obra está a gerar indignação e os moradores apelam a uma solução que permita manter a ponte centenária que é única na região, segundo o investigador José de Mello, embora não esteja classificada.
“Tem dois arcos abatidos que são únicos nas pontes da ilha de São Miguel, não conheço nenhuma outra ponte com estas características, e tem um conjunto que não se repete em nenhuma outra parte da ilha de S. Miguel que é a casa ao meio”, sustenta José de Mello em declarações à TVI24.
No seu perfil do Facebook, o investigador deixa um “apelo ao bom senso” para que “salvem a ponte antes que seja tarde”, reforçando que é “um exemplar único na ilha de São Miguel e talvez nos Açores”.
“A demolição da ponte coloca em causa a harmonia do conjunto patrimonial/cultural do território” e o seu desaparecimento “constituirá uma grande perda para o património arquitectónico na área da engenharia civil”, diz ainda.
A ponte é descrita no site All from Azores como um “símbolo de arquitectura civil”, destacando-se que remonta “aos testemunhos da arquitectura romana” e que foi “reconstruída na primeira metade do séc. XX”, depois de “a cheia de 2 de Novembro de 1896” a ter destruído.
Os moradores consideram que a demolição da ponte é “desonrar os antepassados“, como diz a moradora Lisarda Franco na TVI24. “Isto é uma pena porque são pontes bonitas, bem feitas, que estão aqui já há mais de 100 anos, já passaram por várias cheias e mantêm-se de pé”, acrescenta Lisarda Franco.
Assim, pedem uma solução alternativa que permita manter a Ponte Nova, embora defendam a construção de uma ponte mais preparada para o trânsito actual.
Entretanto, os moradores estão também preocupados com a ponte provisória que foi construída como alternativa de passagem enquanto decorrem as obras. Temem que as chuvas possam causar uma enxurrada com consequências trágicas para a população.