As autoridades do Bangladesh acusaram 16 pessoas pelo homicídio da estudante Nusrat Jahan Rafi, de 19 anos, queimada viva em abril. A jovem foi atacada depois de ter denunciado ser vítima de assédio sexual. O diretor da escola e alguns estudantes estão entre os acusados, arriscando a pena de morte.
Segundo informou o Público na quarta-feira, o diretor da madrassa (escola islâmica), Siraj Ud Doula, está detido desde que a estudante apresentou uma queixa contra si, acusando-o de assédio sexual.
Os procuradores a cargo do caso acreditam que a execução da jovem foi planeada e orquestrada pelo diretor a partir da prisão, com a ajuda de alguns associados que o visitaram algumas vezes. O plano original seria obrigar Nusrat Jahan Rafi a retirar as queixas, mas esta recusou, tendo então sido assassinada, escreveu a BBC.
O ataque aconteceu a 06 de abril, quando a jovem foi para a escola fazer os exames de final de ano. Assim que chegou à escola, foi encaminhada por uma colega até ao telhado do edifício – alegadamente porque uma amiga sua estava a ser maltratada.
Mas era uma emboscada: ao chegar ao telhado, foi encharcada em querosene por um grupo de pessoas de rosto tapado, que lhe atearam fogo de seguida. O objetivo seria fazer com que parecesse um suicídio.
Nesta quarta-feira, as autoridades de Feni (a pequena cidade onde a jovem vivia, a 160 quilómetros de Daca, capital do Brangladesh) acusaram formalmente 16 pessoas pelo seu homicídio – entre eles estudantes da madrassa e dois políticos locais, ambos do partido Liga Awani, com posições de relevo na escola.
Os procuradores pedem pena de morte para os acusados. De acordo com as autoridades citadas pela BBC, o diretor da escola já confessou ter pedido o assassinato da jovem.
A sua morte provocou uma onda de protestos no país asiático. A primeira-ministra do Bangladesh, Sheikh Hasina, prometeu que todas as pessoas envolvidas no assassinato seriam levadas à justiça. “Nenhum dos culpados será poupado”, afirmou.
As queixas de assédio
A jovem estudante tinha acusado o diretor da escola de assédio sexual a 27 de março. De acordo com a estudante, o diretor tocou-lhe de forma inapropriada enquanto estavam os dois no seu gabinete, levando-a a fugir.
Nesse mesmo dia, na companhia da sua família, foi à polícia apresentar queixa, dando o seu testemunho – que foi gravado sem o seu consentimento e publicado na Internet por um dos agentes da polícia.
Nesse vídeo, a jovem aparece visivelmente abalada e tenta esconder a cara com as suas mãos, descreveu a BBC. Ouve-se também um agente a dizer que a acusação “não é nada de especial” e a pedir-lhe para tirar as mãos da cara.
Pouco depois de o diretor ter sido detido, vários moradores de Feni saíram à rua para pedir a sua libertação.
Apesar da pressão, a jovem nunca cedeu no intento de procurar justiça. Depois do ataque com querosene e já na ambulância, gravou um testemunho com o telemóvel do irmão e afirmou-o: “O professor tocou-me e eu vou lutar contra este crime até ao meu último suspiro”.